Transformadores 2013: Claudia Andujar
Uma viagem determinou o trabalho da fotógrafa que é uma das homenageadas deste ano
Quando Claudia Andujar embarcou para o Amazonas, pautada pela revista Realidade para um especial sobre Amazônia, sabia que tinha uma longa jornada pela frente. Mas não imaginava a transformação que viria em sua vida.
Orientada pela revista para não focar o trabalho na questão dos índios, já que este material poderia incomodar o governo militar, que preparava a construção da Perimetral Norte, uma rodovia que tomaria aquele espaço dos índios, acabou não cumprindo a ordem. Quatro meses na região e Claudia voltou com imagens da tribo Aharaibus nunca vistas antes, com uma proximidade e beleza incríveis. “Foi uma visita emocionante”, relembra Cláudia.
“Quando a redação viu as imagens ficaram encantados e decidiram fazer a matéria e capa. Eles mesmo contrariaram a expectativas. Eram fotos bonitas”.
Um trabalho impressionante, porém o último de Cláudia para a revista. “Depois dessa reportagem decidi largar o fotojornalismo”. Ali ela iniciava uma nova jornada em sua vida. Na viagem conheceu os ianomâmis e decidiu brigar ao lado deles por seus direitos.
Uma mostra da força e do empenho de Cláudia ficam estampados na naturalidade que ela fala sobre o tamanho da briga que comprou em defesa dos ianomâmis. Em 71 ela conheceu a tribo e foi morar lá até ser expulsa por razões políticas em 78. Mesmo vivendo afastada intensificou a campanha pela demarcação das terras com uma ONG. A conquista só veio em 1992 durante o governo de Fernando Collor. Paciente, não?
Um história longa, mas que mostra apenas uma parte da vida de Cláudia. Nascida na Suíça por vontade da mãe, Cláudia viveu na Hungria ao lado da família em um ambiente multicultural. “Cresci com três línguas: o húngaro, o alemão, por causa da minha avó, e o francês".
O ambiente bom se encerrou com a ocupação alemã em 44. Até o fim daquele ano, Cláudia perdeu a família toda por parte de pai morta em Auschwitz. Ela e sua mãe escaparam da tragédia fugindo para a Suíça, mas a vida no país não era como quando ela viaja na infância. “Fiquei transtornada com o que aconteceu. A família do meu pai simplesmente foi levada embora. Me senti culpada muitas vezes por não ter ido com eles”. Foi à vez de ir para os EUA morar com os tios, onde com 14 anos ela começa uma nova vida. Sempre muito independente deixou a casa do tio logo depois mantendo um ritmo de estudo e trabalho. Se casou com um espanhol também refugiado, mas viu a guerra interferindo em sua vida novamente quando ele precisou ir para a Coréia. Dois anos depois acabaram se separando.
Foi aí que finalmente o Brasil entrou na vida de Cláudia. Sua mãe morava aqui e ela resolveu se mudar mais uma vez. Depois de dificuldade na Suíça e nos Estados Unidos finalmente ela se encontrou. “Aqui desde que cheguei eu adorei, me dei bem, me senti em casa. Posso dizer até hoje que é o lugar que mais gosto de viver, me dou bem com as pessoas aqui”. Cláudia trabalhava dando aulas de inglês e com o dinheiro viajava pelo país. Nas viagens conheceu a fotografia. “Virou uma maneira de comunicação. Não era para ser profissional, era uma forma de comunicação com os outros e comigo".
Amigos em comum acabaram apresentando Cláudia para Darcy Ribeiro. Foi ele que deu a dica para ela fotografar uma comunidade indígena, ir mexer onde ninguém tinha mexido ainda. Então Cláudia passou dois meses em Carajás. Com esse material ela resolveu se esforçar tecnicamente e montar um bom portfólio.
Com um portfólio pronto Cláudia escutou muitos nãos no Brasil. “O fato de ser mulher, não sei”. Levando o mesmo material para o Estados Unidos ela consegui ser publicada pela respeitada Life. Foi o que abriu portas para ela no Brasil e na editora Abril. Dali alguns a Realidade tinha uma pauta para ela e a história você conhece.
Hoje a suíça é chamada de mãe pelos ianomâmis que vivem no interior: “Me aliviou a consciência do que me aconteceu quando era criança, eu criei outra família a quem estou dedicada até hoje. Duas semanas atrás eu tive problema de saúde e recebi um e-mail deles. Um e-mail! As coisas mudaram. Quer dizer, mudaram e não mudaram. Os ianomâmis ainda fazem questão de manter sua cultura, sua língua e suas crenças. Entenderam o que significa ser um povo e quer se manter como povo. Sabem que são brasileiros, mas querem manter viva a cultura deles”.