Sandro Testinha: ajustando vícios e destacando virtudes
O skatista abriu sua casa para os jovens de Poá, carentes de entretenimento e exemplos. O resultado? Boletins melhores, mudanças comportamentais e melhores relações.
Desde pequenos ouvíamos (ou víamos) falar nos vícios e nas virtudes.
Os vícios geralmente ligados a coisas más, cigarros, bebidas, drogas, mau comportamento, má conduta etc. As virtudes ligadas a coisas boas, como boa índole, hábitos saudáveis, ser educado, não praticar atos violentos etc. , se formos imaginar uma “batalha” entre os vícios e as virtudes temos a impressão que vícios hoje em dia estão vencendo as virtudes principalmente em regiões periféricas do Brasil, mas infelizmente o vício também está presente em nossa classe política e nas denominadas classes emergentes de nosso Brasil.
Quando começamos quase que somente por lazer a colocar uma rampinha de skate em frente da nossa casa para nossos filhos brincarem, foram chegando crianças e mais crianças querendo experimentar, porém chegaram aqui com alguns vícios que foram prontamente notados pela nossa pedagoga Leila Vieira, eram crianças que não sabiam esperar sua vez de usar o skate, fazendo valer a lei do mais forte, utilizavam palavrões irreproduzíveis aqui neste texto, entre outros vícios que nem percebiam que possuíam.
Desse momento em diante, por decisão da Leila, para participar da atividade que sem querer estávamos iniciando, o participante tinha que se adequar às “novas regras”, seria uma forma de conhecermos as virtudes de cada um, uma vez que as pessoas insistem, ou mesmo sem saber demonstram os vícios de caráter construídos para se proteger ou preservar seu próprio “eu”.
Foi criado um cadastro para termos os dados dessas crianças que vinham brincar de skate conosco contendo seu nome, endereço, um contato dos pais ou responsáveis e principalmente uma cópia de seus boletins escolares. Mais do que cadastrar dados, números e notas, queríamos observar a conduta pessoal dos participantes em suas atitudes, cuidado com o próximo, de que modo defende suas ideias, e aí sim iniciarmos a ideia de transformação, processo difícil, mas extremamente possível quando você identifica na criança e no adolescente as suas reais necessidades.
Com o passar do tempo todos foram se adequando à nova realidade que trouxemos para a rua, os palavrões foram diminuindo até “zerar”, a lei do mais forte passou ser utilizada para apenas carregar as rampas e ajudar a segurar crianças novas que não possuíam equilíbrio no skate e criamos uma “loja” de skate onde se compravam as peças e acessórios não com dinheiro, e sim com as notas de seus boletins escolares, ou seja, quanto maiores as notas do boletim, maior era o poder de compra em nossa “loja” repleta de produtos novos ou usados em bom estado doados por nossos amigos skatistas e (ou) pequenos empresários.
Por incrível que pareça, essa atitude, elogiada por muitos que passaram a conhecer nossos métodos, foi também criticada por alguns pais ou responsáveis (ou nesse caso seriam irresponsáveis) que reclamaram a nós que eles já são cobrados na escola e que vinham até nós somente para se divertirem andando de skate.
Porém, continuamos atuando da forma que acreditamos ser transformadora na vida dessas crianças e jovens. Com isso, hoje passados cinco anos de atuação de nossas ações percebemos uma melhora significativa no rendimento escolar, no convívio familiar e social de nossos atendidos.
Podemos pensar até que ponto podemos influenciar significativamente na vida de “Outrem”, mas nenhuma ação será extremamente transformadora se não despertar no coração de alguém o desejo de se transformar, como a metamorfose da borboleta que passa pelo processo de transformação no corpo, no nosso caso queremos a transformação na alma, na conduta, no caráter, na essência, e que cresçam e se tornem “lindas e belas borboletas e que voem e conquistem o mundo”.
Leila Vieira, 34 anos, pedagoga, educadora social e Sandro Testinha
O educador e skatista Sandro Testinha, de 38 anos, foi homenageado no Trip Transformadores de 2013.
* Acompanhe por aqui, semanalmente, os textos de grandes pensadores da sociedade brasileira, que já passaram pelo palco do Trip Transformadores.