Prêmio Trip Transformadores 2012

Por Flávia Durante; Colaborou Luiz Filipe Tavares

Como já acontece há seis anos, nesta quarta-feira em São Paulo o Auditório Ibirapuera deu lugar a mais uma edição do Prêmio Trip Transformadores. Concebido em 2007 pela Trip Editora e chegando a 2012 como um movimento contínuo e permanente, a celebração homenageia brasileiros cujas atitudes extraordinárias ajudam a transformar o mundo.

Selecionados ao longo de um ano de trabalho a partir de indicações do conselho do Trip Transformadores, os homenageados de 2012 foram Ana Beatriz Pierre Paiva, Evelyn Ioschpe, Laerte Coutinho, Joás Brandão, Gabriela Leite, Isabel Fillardis, Luiz Eduardo Soares, Marcos Evangelista de Morais – o Cafu –, Roberto Waack e Vera Cordeiro. Os escolhidos representam valores que a Trip considera essenciais para a vida e que orientam seus princípios editoriais.

Com o ator Lee Taylor como mestre de cerimônias e direção artística do renomado multiartista Marcello Dantas, a noite foi aberta com a apresentação da cantora Alice Caymmi. Sobrinha de Nana e Dori e filha de Danilo, a cantora interpretou “Sargaço Mar”, de seu avô Dorival.

A seguir Paulo Lima, publisher da Trip Editora, desejou que o ações como o Trip Transformadores com o tempo não tenham mais sentido e que as transformações virem regra e não exceção. “Mas por enquanto precisamos celebrar essas pessoas que olham para o outro”, disse o editor.

A primeira homenageada da noite, a médica Vera Cordeiro, criou há 20 anos a Associação Saúde Criança. Mais de 40 mil pessoas foram atendidas desde 1991, e houve redução de 60% do índice de reinternação das crianças assistidas. Por esse trabalho ganhou o Trip Transformadores das mãos do cineasta Fernando Meirelles. Vera terminou o seu emocionado discurso citando a famosa antropóloga americana Margaret Mead: “Nunca duvidem de um grupo muito comprometido de pessoas pois eles podem mudar o mundo”. Nos bastidores, a médica acrescentou: “As pessoas têm que se colocar no lugar do outro, seja ele uma floresta, um paciente ou um adolescente. Não se pode responsabilizar só o governo ou as empresas. Quando as pessoas percebem que sua vontade de transformar vem do seu coração, elas se juntam a você.”

O biólogo e administrador Roberto Waack foi o segundo homenageado. Sua empresa, a AMATA, trabalha com o manejo sustentável de matas para extração comercial de madeira e é um exemplo de negócio do futuro. Entregou o prêmio a ele o presidente do Grupo O Boticário, Arthur Grynbaum. Sobre a importância desse reconhecimento, Waack falou: “O melhor desse prêmio é a capacidade que ele tem de divulgar as iniciativas. Esse processo de concientização pelo que a gente luta só vai se dar na humanidade através de iniciativas como essa. O papel da comunicação na efetivação da transformação é central”. 

A segunda apresentação musical da noite foi a banda do trompetista Guizado, com participação especial do músico nova iorquino Ilhan Ersahin. Eles apresentaram "Coloridos", de composição própria, do primeiro álbum, Punx, de 2008.

A socióloga e jornalista Evelyn Ioschpe, presidente da Fundação Ioschpe, atua no programa Formare, que já levou ensino técnico a 10 mil alunos. Também consolidou a Gife, rede sem fins lucrativos que reúne 142 associados e investe R$ 2 bilhões por ano na área social. Foi ela a terceira consagrada da noite, com o prêmio entregue por David Feffer, presidente da Suzano Papel e Celulose. “As notícias do jornal são sempre do negativo. Nada que é feito com crença acaba aparecendo no jornal. Então quando um trabalho como o nosso vem à tona nessa premiação, ele vira instantaneamente inspiração para quem quer fazer algo do tipo”, celebrou Evelyn.

Eduardo Trancanela, superintendente de marketing do Itaú Personnalité, premiou Rafael Vivolo, o 11º Transformador, eleito por votação na internet. Através de seu Projetos de Garagem, Rafael divulga novos talentos e viabiliza novas ideias e as apresenta para empresários, investidores e profissionais do mercado de marketing. Até hoje, ajudou a divulgar mais de mil novos talentos com a iniciativa. Sobre o reconhecimento falou: "Essas atitudes são como uma cachoeira: que começa pequena e que cresce para se tornar gigante. A gente vê que não é maluco. A chancela da Trip nos permite investir em mais projetos e mudar a vida de mais pessoas”.

Paulo Sérgio Kakinoff, presidente da Gol Linhas Aéreas, subiu ao palco para homenagear a autora Ana Beatriz Pierre Paiva. Portadora de Síndrome de Down, ao lado de outros seis jovens com deficiência intelectual, Ana escreveu e publicou em 2011 o livro Mude o seu falar que eu mudo meu ouvir, uma cartilha com dicas sobre como se portar e interagir com deficientes mentais. Foi o primeiro livro sobre acessibilidade escrito por deficientes intelectuais no Brasil. “As pessoas precisam aprender a trabalhar em grupo. Juntas, as pessoas tem o poder de mudar o mundo. Precisamos transformar o ser humano por dentro. Por fora é fácil, é só fazer uma academia [risos]”, brincou Ana Beatriz.

Em mais uma apresentação musical que abrilhantou a noite, foi a vez de Luê Soares, cantora revelação de Belém do Pará, que com o seu violino reinventou “Baila Comigo”, de Rita Lee.

Fundadora da Davida, uma das primeiras organizações sociais na luta pelos diretos das prostitutas, Gabriela Leite foi também criadora da grife Daspu, mais uma ação para resgatar a dignidade dessas trabalhadoras. Para fazer a entrega do prêmio foram convidados ao palco Carlos Sarli, o Califa, e Fernando Luna, ambos da Trip Editora. Gabriela disse que se sentiu muito próxima a Ana Beatriz, pois antes de começar a se organizar, nunca havia falado por ela mesma. Muito aplaudida, fechou o seu emocionado discurso citando a poetisa carioca Ana Cristina César: “É muito difícil ancorar um navio no espaço. É muito difícil, porem não impossível. Todos nós podemos ancorar nosso navio no espaço”.

O ator e músico Gero Camilo e Marcello Serpa, sócio-presidente da Almap/BBDO, apresentaram e premiaram o cartunista Laerte. Ele colocou em xeque definições de gênero quando, aos poucos, foi aparecendo com adereços e roupas femininos. Sua atitude, mais do que uma libertação pessoal, tornou-se uma bandeira política pela liberdade individual. “Longe de mim querer ser cartilha aqui né? [risos]. Mas acredito que o primeiro passo é assumir pra você que você quer fazer algo para mudar uma determinada situação. Primeiro vem um movimento interno, depois o resto”, disse Laerte.

"As pessoas têm que se colocar no lugar do outro, seja ele uma floresta, um paciente ou um adolescente. Não se pode responsabilizar só o governo ou as empresas. Quando as pessoas percebem que sua vontade de transformar vem do seu coração, elas se juntam a você”, Vera Cordeiro

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A atriz Bárbara Paz subiu ao palco do auditório para prestigiar sua colega de trabalho, a também atriz Isabel Fillardis. Mãe de Jamal, portador da rara síndrome de West, fundou em 2003 a ONG Força do Bem, para ajudar famílias que convivem com a doença. Não satisfeita, criou ainda o Instituto Doe Seu Lixo, que auxilia catadores cariocas. Sobre o ponto de partida para transformações, Isabel incentivou: “O primeiro passo para entrar em um projeto desses é o despertar. Todos os homenageados de hoje falaram de família. Esse é o ponto de partida: o amor por você, pela sua família, pela sua terra e pelo que você acredita”.

Com sua superbanda de soul e funk, o grande ator e cantor Tony Tornado abrilhantou a noite com sua interpretação de “Sou Negro”. Tony continou no palco, ao lado do cantor Criolo, para entregar o prêmio Trip Transformadores para o antropólogo Luiz Eduardo Soares. Autor de A elite da tropa, livro que inspirou o filme Tropa de elite, Soares trabalhou como secretário nacional de segurança pública e coordenador de segurança, justiça e cidadania do estado do Rio de Janeiro. “Para seguir nosso exemplo, o melhor é não seguir nossos passos. Buscar os seus próprios passos, com o tamanho das suas pernas, que seja ao mesmo tempo seu e que promova uma experiência coletiva, com respeito à diversidade e à liberdade. Cada um tem que ser poeta em sua própria singularidade”, disse o antropólogo.

O mais notório dos transformadores da noite, Marcos Evangelista de Morais – o Cafu, recebeu a homenagem das mãos de Vasco Luce, presidente da divisão de bebidas da PepsiCo América Latina. O ex-jogador de futebol cresceu no Jardim Irene, na periferia de São Paulo, e lá mantém a Fundação Cafu, que atende mais de mil crianças e adolescentes em oficinas e cursos profissionalizantes. “Esse prêmio é ótimo porque vem coroar toda a dedicação e trabalho desses anos todos. Isso te dá mais incentivo mais prestígio e faz você levar ainda mais seriedade para o seu trabalho”, celebrou o ex-jogador.

O presidente da Audi Brasil, Leandro Radomile, e a apresentadora Didi Wagner encerraram as homenagens da noite entregando o prêmio para o ativista Joás Brandão. Ele ajudou a criar o Grupo Ambientalista de Palmeiras, que preserva o Parque Nacional da Chapada Diamantina, na Bahia, mantém horta comunitária e brigada contra incêndios e apoia as famílias carentes da região. Com um discurso que cativou a plateia, Joás cantou e ainda fez a plateia cantar e se abraçar. Nos bastidores, falou: “Eu vejo a importância desse prêmio em dar mais força para que você possa seguir em frente. Nunca pensei, em toda minha história, que eu iria chegar em um patamar desses. Em primeiro lugar, você tem que ter sensibilidade. É um conjunto de várias coisas, mas se você não tiver sensibilidade, não dá certo. Tem que ter sintonia e integração. Se você for sensível, você consegue.”

Uma animada jam entre Alice Caymmi, Luê, Guizado e Tony Tornado cantando o hino black “Podes Crer, Amizade”, encerrou mais uma noite de celebração e transformação.

Em sua sexta edição o prêmio contou com o patrocínio do grupo O Boticário, parceiro desde 2008, e do Banco Itaú, desde 2011, e com apoios importantes, como Almap/BBDO, H2OH!, Suzano Papel e Celulose, Audi, Grupo Ink, O Estado de S. Paulo, Rádio Eldorado FM 107,3 e Gol Linhas Aéreas Inteligentes.

Veja o prêmio na íntegra no vídeo abaixo e as fotos da cerimônia de premiação e da festa na galeria