O pontapé de uma caminhada
Um jovem paraplégico deu o chute inicial da Copa do Mundo, um feito de Miguel Nicolelis
“We did it!” (Conseguimos!), vibrou Miguel Nicolelis pelo Twitter, como se fosse Copa do Mundo. E era, de fato: a bola finalmente rolava na Arena Corinthians, na abertura do Mundial. Mas o primeiro chute não foi da seleção: veio de Juliano Pinto, 29 anos e paraplégico. O feito, que não durou mais de 10 segundos, foi resultado de “17 meses insanos de trabalho”, muitas horas de testes e uma equipe com mais de 150 pesquisadores de 25 países, coordenados por Nicolelis no projeto Andar de Novo.
Em sete anos de cadeira de rodas, aqueles eram os primeiros momentos em que o atleta Juliano Pinto sentia de novo a sensação de movimento nas pernas. Vestindo uma armadura robótica controlada por comandos cerebrais, ele deu o pontapé inicial do megaevento para depois desabar em lágrimas.
Segundo Nicolelis, o desenvolvimento do exoesqueleto – como é chamada a vestimenta – foi feito em tempo recorde para que fosse apresentado na abertura da Copa. Em janeiro, os testes de movimento começaram a ser feitos com outros sete voluntários paraplégicos, além de Juliano. Foram quase 50 horas e mais de 100 passos registrados por quem há anos não podia caminhar.
“A missão foi cumprida integralmente”, comemorou o cientista, que em 2011 foi homenageado pelo Trip Transformadores. Mas isso não significa que os trabalhos estão encerrados. Pela frente, ainda virão no mínimo outros 30 meses de estudos, publicação de artigos, pesquisas e experimentos para aperfeiçoamento, prevê o brasileiro. “O pontapé foi apenas o primeiro passo”, ele garante. Nesse caso, literalmente.