O melhor ritz de Nova York
O Prêmio Trip Transformadores convidou dois dos homenageados para conhecer Stephen Ritz
O Prêmio Trip Transformadores convidou a designer Paula Dib e o arquiteto Edgard Gouveia Jr., dois dos homenageados da edição deste ano, para conhecer Stephen Ritz, professor de Nova York que ensinou alunos de uma das áreas mais pobres do país a plantar e mudou suas vidas
Duvido que exista brasileiro que, de férias por Nova York, programe-se para conhecer o sul do Bronx, ou South Bronx, um dos bairros mais pobres do país. Eu também não teria ido à região não fosse a insistência de dois paulistanos inquietos: a designer Paula Dib e o arquiteto Edgard Gouveia Jr. E, claro, não fosse também uma certa interferência da Trip.
Paula cria produtos a partir de matéria-prima abundante em determinada região, inspirada por uma necessidade específica daquela comunidade – que, ao se associar à jovem, acaba ganhando autoestima, moral e também dinheiro. Edgard desenha jogos cooperativos com o objetivo de integrar pessoas menos privilegadas. Dois dos homenageados do Prêmio Trip Transformadores 2013, eles estavam em Nova York para o ciclo de eventos promovido pela Trip em setembro e aceitaram o desafio de se conectar com outros transformadores como eles. Foi por isso que, numa manhã ensolarada de outono, Paula, Edgard e eu enfrentamos a linha seis do metrô nova-iorquino para chegar a South Bronx. O destino final estava 24 paradas depois, na estação Hunts Point, onde fica a escola pública na qual dá aulas o professor Stephen Ritz. Ele nos esperava na porta. Não precisamos de mais do que 2 minutos para entender que Ritz é movido pela energia de Angra I, II e III. De camisa quadriculada e gravata-borboleta feita de legos (!) nos saudou como se fôssemos amigos que voltavam da guerra.
Stephen é um homem de 50 anos que conheceu o lado Gotham City de South Bronx quando jovem, conseguiu escapar, casou, perdeu filhos gêmeos ainda pequenos e decidiu honrar a memória deles ajudando crianças menos privilegiadas a encontrar um caminho. Tudo mudou no dia em que ele, professor do curso primário de uma escola pública, levou a classe para um passeio de metrô. “Um dos alunos apontou para o trilho e disse: ‘Professor, o que é aquilo ali?’ Tive medo de olhar porque a chance de ser uma coisa que ninguém gostaria de ver era enorme, mas o que vi foi uma flor que, teimosamente, nascia.” A imagem o deixou perplexo. “Pensei: se uma semente é capaz de brotar aqui, então ela pode brotar em qualquer lugar.”
Couve-dealers
O professor foi estudar. Com engenheiros e biólogos desenvolveu técnicas para plantar em sala de aula. “Meus alunos eram crianças obesas, que não sabiam que nuggets vinham do frango, nunca tinham comido alface na vida.” Stephen não previa que uma revolução estava em curso. “Eu escutava por aí que comunidades marginais gostam de comida ruim e barata. Não é verdade. Eles querem comida saudável, mas não sabem onde encontrá-la.”
Desde que Stephen começou a plantar com os alunos, em 2008, tudo neles mudou. “É incrível a curiosidade com o processo de ver a semente virar planta e, depois, poder comer. Eles hoje comem o que plantam. Levam para casa, plantam, educam os pais e os avós.” A produção cresceu tanto que alguns alunos conseguem vender o que plantam, além de fornecer a orfanatos, asilos e para a própria cafeteria da escola. “Tenho alunos que vendiam crack e hoje vendem couve. Ganham mais como couve-dealers do que como crack-dealers”, diz rindo. Se antes de sua onda verde, que leva o nome oficial de Green Bronx Machine, ele tinha 40% de presença em aula, hoje tem 93%. “Cem porcento dos meus alunos se formam”, diz.
Conectar pessoas numa rede de afeto e ações é o que faz o Trip Transformadores. Naquela tarde, saímos do Bronx com a promessa de que projetos casados nasceriam dali. E a impressão de que Paula, Edgard e Stephen estão para sempre conectados um ao outro.
O Prêmio Trip Transformadores é apoiado por marcas com princípios alinhados à iniciativa e a seus HOMENAGEADOS. Este ano o prêmio é patrocinado pelo Grupo Boticário, nosso parceiro desde 2008, e pelo Itaú, conosco desde 2011. Apoiado por Audi, Ades, Academia de Filmes, Suzano Papel e Celulose, Almapp/BBDO, H2OH!, Gol Linhas Aéreas Inteligentes e pela Rádio Eldorado FM 107,3.