O Brasil que Tia Dag quer tem educação
Educação é muito mais do que saber ler, escrever e fazer algumas contas para poder arrumar um emprego de remuneração precária
Estou dentro do carro, cabeça encostada na janela, olhando o entardecer. Estou feliz e satisfeita, voltando de uma premiação que reconhece a Casa do Zezinho como uma das melhores ONGs do Brasil. Relembro os comprimentos e sorrisos, os discursos de outros educadores, mas também o olhar cansado nos rostos de quem ainda acredita em mudança e transformação “apesar de” e sabe que precisa começar do zero, todos os dias. Educar é um ato contínuo que nunca termina.
Porém, ainda não é o bastante. Não pode ser. Não enquanto os números oficiais de analfabetismo forem tão altos, não enquanto as doações forem tão baixas, não enquanto o descaso público for tão grande. A triste verdade é que o Brasil é mal-educado em vários níveis, por nós mesmos. Educação é um bem que se importa e exporta. Ele precisa sair de uma pessoa para outra, seja na forma de conhecimento, expressão ou exemplo. Educar é ação e não estamos agindo. Se uma pessoa bem-educada tem 24 horas de oportunidades para exportar conhecimento de valor e não o faz, o que podemos esperar de quem não recebeu nem o ensino fundamental? Que direito temos de cobrar isso do outro? Nenhum, oras!
Educação é muito mais do que saber ler, escrever e fazer algumas contas para poder arrumar um emprego de remuneração precária e passar a vida como um analfabeto funcional que consegue votar para que tudo continue na mesma. O Brasil que eu quero precisa ter uma educação que seja maior que isso. Precisa formar pessoas que sejam maiores que isso. O Brasil que eu quero precisa não apenas gritar por mudanças mas começar a ouvir e fazer, tanto quanto. No Brasil que eu quero, a educação deveria ser um assunto para se falar todos os dias, como novela e futebol, como algo de interesse público e legítimo. Não cola mais jogar a responsabilidade nas mãos de professores e educadores de salários baixos, escolas sucateadas e no fim da fila dos interesses governamentais. Seja você empresário, advogado, pai ou mãe, estamos no mesmo barco. E ele afunda um pouco a cada dia.
O Brasil precisa renovar seu encanto pelo ensino para reeducar a si mesmo. Precisa começar por quem sabe um pouco para compartilhar com quem não sabe de muita coisa. O tudo é a soma do pouco que cada um pode doar e fazer. A educação é chamada de elitista porque está fundamentada na arrogância daqueles que não dividem seus conhecimentos e habilidades a sua volta. Essa mesquinharia do medo precisa parar. Medo de perder status, medo de perder o emprego se ensinar o funcionário, medo da competição e da concorrência que perpetua o analfabetismo funcional. O Brasil que eu quero tem que ter educação de ensino. As ferramentas estão aí, muito mais do que quando comecei. Usem as mídias sociais para educar, usem a robótica, a realidade virtual. Usem, principalmente, a si mesmos. E vamos transformar o Brasil em um grande corpo docente. Vamos fazer do nosso país um organismo vivo e referencial de ensino, de novas ideias e ideais para o mundo. Vamos respirar educação!
O Brasil que eu quero tem que ter educação. Espero, de verdade, que o seu também.
"A boa educação é moeda de ouro. Em toda a parte, tem valor." -– Padre Antônio Vieira
Tia Dag foi homenageada pelo Trip Transformadores de 2007.
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