Jardim Limpão
Projeto busca transformar a realidade de crianças e jovens carentes através da arte e de intervenções urbanas
Da necessidade de se fazer algo pelas comunidades do Jardim Limpão e Jardim Regina, em São Bernardo do Campo, que fugisse da simples ideia de deixar a favela ‘‘mais bonita’’, surgiu o Projeto Jardim Limpão. O intuito é possibilitar o acesso das crianças e dos jovens da região à cultura, ao lazer e ao esporte, e mostrar que a intervenção urbana através da arte é um meio de transformar tanto as pessoas quanto o lugar em que vivem. “A arte mudou a nossa trajetória”, diz Daniel Melim, 33 anos, um dos idealizadores.
Criado em 2006, o projeto vem se desenvolvendo por meio da ação voluntária de artistas convidados, ativistas e moradores do bairro, baseada em atividades como capoeira, percussão, dança afro, artes visuais e grafite, ministradas em forma de oficinas e workshops. “Acredito que a arte seja um canal de expressão muito importante, que contribui até para o desenvolvimento motor das crianças através das diversas práticas, como desenho, pintura e colagem. A adolescência, por sua vez, é um momento de descoberta e a arte faz parte desse processo como forma de se autoconhecer, testar habilidades e expressar anseios”, diz Melim, que é artista plástico.
Nas oficinas de grafite, por exemplo, os "alunos" entram em contato com as técnicas, a história e o processo da criação do grafite. Para expor a diversidade do meio para os jovens são apresentados vídeos, fotos e informações sobre os grafiteiros do Brasil e do mundo, além de acontecerem visitas monitoradas a ateliês de artistas, museus e centros culturais para que eles possam adquirir um conhecimento ainda maior da arte.
Localizadas no bairro Ferrazópolis, essas comunidades são marcadas pela violência e pelo intenso tráfico de drogas, presa fácil para os jovens. “Nós mesmos que idealizamos o projeto passamos por uma transformação. Canalizamos as emoções para um sentido mais positivo. A rebeldia talvez seja a mesma, mas entendemos que não precisa ser destrutiva”, afirma.
“Nós mesmos que idealizamos o projeto passamos por uma transformação. Canalizamos as emoções para um sentido mais positivo", Daniel Melim
Há, ainda, outro grande problema: a falta de estrutura básica para seus moradores. Considerando que o grafite é uma das mais importantes formas de expressão na atualidade e está relacionada à cultura urbana, os idealizadores do projeto querem humanizar os becos e vielas das comunidades, proporcionando uma melhoria tanto no aspecto visual do bairro, como na autoestima dos moradores, que terão suas casas pintadas por crianças e jovens da comunidade.
O projeto também incentiva o registro, por meio da fotografia, dessas atividades e do dia a dia das comunidades para apresentar ao mundo a história de cidadãos comuns que se esforçam para sobreviver com pouco mais de R$ 300,00 por mês em média. E que não contam com a ajuda de nenhum político ou de qualquer outra forma de autoridade.
A experiência no decorrer dos anos e a troca de ideias com os moradores permitiu que a organização ganhasse respeito, e mobilizasse a população.
“Conseguimos o respeito dos moradores e dos pais dos alunos. Sempre que precisam reivindicar algo em prol da comunidade, eles nos procuram. Tenho certeza que sempre que agimos por meio da ação direta estamos fazendo muito mais e melhor do que qualquer instituição, já que nenhum tipo de representação política vai entender nossas reais necessidades”, conclui Melim.
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