Empreendedorismo feminino e equidade
Mulheres empoderadas são donas de seu próprio tempo e trabalho
São inegáveis os avanços das mulheres no mercado de trabalho, com a conquista de mais espaço em funções antes tradicionalmente masculinas e maior participação do salário feminino no orçamento familiar. Dois exemplos ilustram bem tais fatos. Em primeiro lugar, dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia mostram que o número de mulheres no país cresceu 42% entre 2016 e 2018, data do último levantamento. Além disso, segundo a Febraban, as mulheres estão à frente de 56% do orçamento doméstico no Brasil, enquanto 44% dos homens assumem essa função.
Embora esses números sejam animadores, muitas mulheres acabaram sendo empurradas para o empreendedorismo durante a pandemia da Covid-19, pois além de terem sido demitidas em maior número, muitas tiveram de largar seus empregos para cuidar dos filhos, que passaram meses em casa, longe da escola, de acordo com a Rede Mulher Empreendedora, associação que presta auxílio a mulheres de todo o país que desejam tocar seu próprio negócio. Ainda segundo a Rede, a falta de perspectivas no mercado de trabalho também se impôs como realidade para muitas trabalhadoras que decidiram empreender.
Sabe-se que iniciativas isoladas, por si só, podem assumir papéis transformadores na sociedade de modo geral. E empresas e instituições sem fins lucrativos podem ajudar, e muito, a sociedade a se dedicarem a projetos do tipo. Em 2011, a Danone lançou um programa para apoiar o empreendedorismo feminino e ajudar mulheres a gerar renda para suas famílias. Chamado de Kiteiras, ele havia impactado, até 2019, mais de 6.000 mulheres em todo o país. A iniciativa é um grande canal de vendas, que consiste na comercialização porta a porta de produtos da marca – de acordo com pesquisa recente realizada pelo Sebrae, uma das principais fontes de renda das mulheres empreendedoras é o setor alimentício.
Lourdes Angelica dos Santos Souza, 55, é uma dessas vendedoras e atende a região de Indaiatuba, onde mora, Itupeva, Cabreúva e Capivari, no interior de São Paulo. "Vendo muito e a minha movimentação não caiu durante a pandemia, felizmente. Tenho mais de 2.000 contatos entre clientes eventuais e fixos, e acabo usando muito o WhatsApp para estar sempre em contato direto com eles e divulgar promoções. Para mim, essa é a melhor abordagem para esse tipo de venda regional que faço", diz. Lourdes também produz conteúdo para seus clientes, enviando vídeos caseiros e explicativos sobre os produtos da Danone. "Com esse trabalho, reformei minha casa e comprei um carro só para fazer entregas. Sei de várias histórias de vendedoras que compraram casa e sustentam suas famílias graças aos kits", relata. Graças a iniciativas como essa que a Danone foi certificada como Empresa B, reconhecimento internacional que atesta a marca como benéfica, ou seja, que trabalha igualmente em prol do desenvolvimento dos negócios, humano e do planeta.
Outro projeto mais recente, nascido na esteira da pandemia, o Heróis Usam Máscara gerou renda para mulheres em todo o país. Capitaneado pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora, pelo governo de São Paulo e com apoio da Fundação Tide Setúbal, do Instituto BEI e de três bancos privados, o programa empregou costureiras e costureiros de todo o país com o objetivo de fabricar 10 milhões de máscaras de pano para prevenir o coronavírus – os homens representam 10% desses trabalhadores. A iniciativa contou também com a participação de 67 organizações da sociedade civil, que administraram o trabalho desse grande time.
Esses dois exemplos mostram como as corporações têm papel decisivo na transformação social. Para virar o jogo em favor da igualdade de gênero, é essencial que mais empresas e marcas topem aderir a programas de inclusão ou a iniciativas que incentivem mulheres a trilhar seus próprios caminhos.