Doula: aquela que serve

por Erica de Paula

Desde o surgimento da humanidade, mulheres dão à luz acompanhadas por outras mulheres com mais experiência nesse assunto

Desde o surgimento da humanidade, mulheres dão à luz acompanhadas por outras mulheres com mais experiência nesse assunto. Além da própria parteira (que detém o conhecimento técnico e é responsável por lidar com as intercorrências que podem surgir), parentes, amigas ou comadres eram escaladas para estarem presentes nesse momento, dando todo o suporte necessário para a parturiente. Durante algum tempo, após a entrada da tecnologia no cenário do parto, tanto as parteiras como as doulas tiveram sua atuação obscurecida. No entanto, atualmente essa presença feminina tem retornado com toda força e de forma profissional não apenas nos cenários de partos domiciliares, mas também em maternidades públicas e privadas. O trabalho da doula vem sendo sistematicamente endossado pela literatura científica e recomendado pelos obstetras humanizados, pelo Ministério da Saúde e inclusive pela Organização Mundial da Saúde. Mas o que exatamente é uma doula?

A palavra doula deriva do grego e quer dizer "aquela que serve". Ou seja, é uma mulher com conhecimento e experiência em nascimentos, treinada para servir outra mulher durante a gestação, o parto e o pós-parto imediato. O trabalho da doula normalmente começa no pré-natal, com alguns encontros que possuem a finalidade de formar vínculo, entender a história prévia da gestante, o contexto da gestação, suas expectativas, vontades, medos, traumas e anseios. Durante esses encontros, são dadas todas as informações necessárias sobre a fisiologia do trabalho de parto e a realidade obstétrica local, facilitando a escolha da equipe, do local de parto, das possíveis intervenções que podem ocorrer na mãe ou no bebê etc. Em muitos casos, a doula também empresta materiais e sugere leituras, vídeos e artigos científicos sobre determinados assuntos de interesse da gestante.

“A doula irá facilitar a comunicação com a equipe médica e o cumprimento do plano de parto”

Uma vez que o trabalho de parto se inicia, a doula possui um papel de suporte contínuo, traduzindo para a gestante o que está acontecendo e oferecendo informações, orientações, apoio emocional e técnicas não farmacológicas de alívio de dor e conforto (palavras de incentivo, massagens em locais específicos, sugestões de posições, orientações de exercícios físicos e respiratórios, compressas e banhos quentes etc.). A doula irá facilitar a comunicação com a equipe médica e o cumprimento do plano de parto, ou seja, que as expectativas e desejos da gestante sejam respeitados e que todos os bastidores desse momento estejam em sintonia com as necessidades de uma mulher em trabalho de parto (iluminação, ruídos, trilha sonora, temperatura, privacidade, higiene, alimentação etc.). No caso de uma cesariana necessária, é papel da doula tentar assegurar que todo o processo ocorra da maneira mais suave e respeitosa possível, cuidando da ambientação (iluminação, som, temperatura) e dos direitos e desejos da gestante nesse momento (de não ficar amarrada, poder ver o nascimento do bebê através de campos cirúrgicos abaixados, clampeamento tardio do cordão umbilical, ter contato pele a pele precoce com seu bebê e poder amamentar na primeira hora de vida).

É importante frisar que a doula não substitui nem reduz a participação do acompanhante no momento do parto, uma vez que são papéis distintos e complementares. A doula atua de maneira técnica e imparcial, enquanto o acompanhante é leigo e possui vínculo e envolvimento emocional com a situação. Na maioria das vezes, a presença da doula encoraja uma participação mais ativa e eficaz do acompanhante nesse momento, fornecendo informações e apoio em relação ao seu papel em cada etapa desse processo. Além disso, não é papel da doula realizar nenhum tipo de intervenção médica ou invasiva, tais como aferir pressão, fazer exame de toque, realizar ausculta fetal, resolver distocias e emergências, nem tomar nenhum tipo de decisão pela parturiente. Portanto, a função da doula vem apenas somar com o restante da equipe multidisciplinar, composta de enfermeiras, médicos obstetras, neonatologistas, anestesistas etc. Após o nascimento, a doula também acompanha a dequitação da placenta, os primeiros cuidados do bebê e o início da amamentação, fornecendo orientações gerais sobre o puerpério, aleitamento e cuidados com o recém-nascido, podendo indicar outros profissionais específicos conforme a necessidade da puérpera, tais como pediatra e consultoras em aleitamento.

“Não é papel da doula realizar nenhum tipo de intervenção médica ou invasiva”

E para quem diz que doula é apenas perfumaria, os dados não mentem: de acordo com diversos estudos (1, 2, 3, 4), a presença de uma doula no cenário do parto pode reduzir significativamente o índice de cesarianas e a aplicação de anestesia peridural. Além disso, mulheres acompanhadas por uma doula relatam maior satisfação com a experiência de dar à luz, menos dor, menos ansiedade, menos tempo de trabalho de parto, menos intervenções (como ocitocina, fórceps etc.), menor índice de depressão pós-parto, bebês com melhores índices de Apgar (testes que avaliam as condições de saúde do recém-nascido), menores taxas de prematuridade e um maior índice de sucesso na amamentação.

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Referências científicas

1. https://www.npr.org/sections/health-shots/2016/01/15/463223250/doula-support-for-pregnant-women-could-improve-care-reduce-costs.
2. Hodnett ED, Gates S, Hofmeyr GJ, Sakala C, Weston J. Continuous support for women during childbirth. Cochrane Database of Systematic Reviews 2014, Issue 11. Art. No. CD003766. DOI: 10.1002/14651858.CD003766.pub3.
3. Klaus & Kennel. Mothering the mother, Períodico, 1993.

4. Simkim, Pennu; O’hara, Marry Ann. Relief of pain during labor: systematic reviews of five methods. American Journal of Obstetrics and Gynecology, maio, 2002.

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