As vozes que queremos ouvir
Personalidades e visitantes do segundo evento do Trip Transformadores 2018 dão sua opinião sobre diversidade política e representatividade no poder
Durante o ano inteiro, Trip e a marca ativista Ben & Jerry's foram às ruas ouvir, entender e falar. Juntas, provocaram discussões necessárias – criminalização da LGBTfobia, educação para diversidade, representatividade, direitos humanos e diversidade pautaram as ações dessa parceria em 2018.
No segundo evento do prêmio Trip Transformadores, "Como aprender a viver junto?", Ben & Jerry's resolveu abordar pessoalmente alguns pontos sensíveis entre convidados e homenageados e perguntou: representatividade política importa? Como ampliar o discurso sobre diversidade no cenário político? Confira o que os entrevistados têm a dizer.
Thaíde
“A presença de minorias na política mostra que nem tudo está perdido. Não vamos ficar 100% desamparados, sempre vai ter alguém olhando por nós. A gente ficou muito tempo do lado de fora, observando a máquina funcionar, sem sequer se interessar por ela. E agora mudamos esse pensamento, tem muita gente nossa que agora está lá dentro sabendo como ela funciona. São essas pessoas que vão nos ajudar a desenvolver melhores dias futuramente. Eu me posiciono, não escondo quem apoio. Mesmo nesta época de ódio e intolerância, a gente tem que se posicionar. Estou sempre dizendo quem eu sou, em que acredito, e estou sempre presente para defender minha posição. A política se faz a todo momento. Isso aqui agora, por exemplo, é um ato político.”
Amyr Klink
“A questão da representatividade na política só vai mudar através da compreensão de como funciona o sistema. O brasileiro ainda não entendeu que o importante é participar do processo eleitoral. É participando do processo democrático que a gente legitima essas pessoas. Quero que o presidente da república garanta liberdade para todas as minorias, todas as classes. Quero que haja uma representatividade diversificada. Como que um país com 51% de mulheres tem só 9% no congresso? Esse congresso não me representa. A representatividade de gênero tem que ser próxima da realidade. A gente precisa de transformação para representar melhor o que somos e o momento de aprendizado é agora.”
Milly Lacombe
“Tentar se separar da política é um erro, porque somos seres políticos. Quanto mais a gente se misturar, mais controle a gente tem sobre nossas vidas. Não que a gente tenha controle sobre as coisas, mas pelo menos conseguimos dar um norte, e conseguimos pensar nas pessoas que a gente quer que estejam lá nos representando, no parlamento, no executivo e no legislativo. Durante muito tempo, a única voz escutada em qualquer ambiente político foi a do homem branco heteronormativizado. Agora, outras vozes estão sendo ouvidas; a da lésbica, a do gay, a da mulher negra, a da periferia... Estamos começando a fazer esse barulho, e conseguir representatividade parlamentar é o mínimo, já que o parlamento deveria representar a população. Enquanto o parlamento tiver apenas homem branco, rico, heterossexual, ele vai representar 1% da população.”
Igor Oliveira
“A representação de grupos minoritários é importante em qualquer ambiente, existe preconceito em todo lugar. Incluir as minorias não é fazer um favor pra ninguém, é o mínimo. Só a representatividade vai ajudar a eliminar esse degrau, esse preconceito que é cultivado de diversas formas.”
Lux Tenório (promotora Ben & Jerry’s)
“A representatividade de minorias na política é uma necessidade que estamos conquistando aos poucos. Empatia de certos políticos até existe, mas quando alguém que sente aquilo na pele se coloca à frente do batalhão, se torna muito mais fácil tocar nos pontos importantes e sensíveis para mudar alguma coisa de verdade. Acho que, hoje, as causas que mais precisam de conscientização e de humanização são as raciais e LGBT.”
Padre Júlio Lancelotti
“É muito difícil, mas acho importante que haja vozes dissonantes. Estamos ouvindo agora de candidatos que a maioria tem que ser respeitada, mas é o contrário. A minoria tem que ser respeitada. A maioria não pode sufocar a minoria. Na questão de gênero, nas questões de classes, nas questões sociais, econômicas, políticas... tem que se manter a voz dos negros numa sociedade branca, das mulheres numa sociedade machista, da diversidade dentro de uma sociedade heteronormativa. Tudo isso tem que ser mantido, senão é o totalitarismo. E nós estamos caminhando para o totalitarismo. A política que nós vamos construindo diariamente é a de quebrar hegemonias. Defender os pobres, os fracos e os pequenos incomoda. É um incômodo insuportável.”
Marcelo Rosenbaum
“Acho que existe um momento nosso de despertar para a política. Precisamos chegar neste ponto para a população se engajar e entender, por exemplo, que eleger um deputado é importante. Quem são as pessoas que você quer que te representem, ou quem são as pessoas que precisam estar sendo representadas a partir da sua própria experiência, do seu lugar de fala? Mesmo com todo o desespero do momento político que estamos vivendo, a gente deu um grande passo. E eu prefiro este olhar otimista. É a política chegando no dia a dia das pessoas, e para isso, a representatividade é essencial.”
Ilona Szabó
“A política precisa ter todas as vozes da sociedade. Se a gente não consegue ter o direito de se representar enquanto grupo, seja enquanto mulher, indígena, negro, LGBT, nós não estamos sendo ouvidos. Por isso é fundamental termos essa consciência,senão as nossas vozes, direitos e necessidades não serão acolhidos. Se apenas homens brancos fazem leis, eles não vão representar os reais interesses da sociedade. Na minha vida cidadã eu também tenho feito ativismo, transcendendo temas da minha área profissional, e tento aprender para me informar, para formar minha opinião. Acho que a gente tem que disseminar o que aprendemos para outras pessoas. A informação é nossa principal arma.”
Marta Carvalho (produtora cultural)
“Sou ativista do movimento negro e também sou produtora cultural, então automaticamente me envolvo com política todo dia. Depois que passamos a ter políticas públicas voltadas à dita minoria do país, tivemos muito mais espaço, conseguimos nos afirmar, estudar, conseguimos ocupar espaços que normalmente não tínhamos. Agora não tem mais volta. A gente já cresceu, a gente já quer mais. A gente já pode ir além. Neste momento, para eles, a única saída é a violência. E nós vamos continuar resistindo. E existindo. Essa é a questão do momento.”
Bruno Feder
“Historicamente nosso parlamento é composto de homens brancos privilegiados que estão no poder, fazendo, criando as leis, regendo o país. Precisamos das pessoas que vivem a vida real nesse lugar para poderem estabelecer suas diretrizes. Acho de extrema importância todos os movimentos de minorias – LGBT, negros, periféricos. Todos os grupos segregados historicamente precisam estar no comando. Precisam e merecem ter voz.”