Moda periférica
'Trazer a periferia para o centro mudou meu jeito de pensar moda e identidade' - Karina Cabral, da Jacaré Moda
"Diz seu nome, de qual bairro você veio e como você fez para chegar aqui." Assim começou a seleção para o casting da Jacaré Moda, em dezembro do ano passado.
Ouvir cada jovem ansioso contando os malabarismos que fez para chegar ali foi como respirar fundo depois de tempos prendendo o ar. Todo carioca que se preze tem uma história sobre transporte público para contar, afinal, a mobilidade urbana do Rio de Janeiro é uma aventura. Mas aquela não era mais uma conversa dessas que a gente ri pra não chorar. No final das apresentações, tínhamos uma certeza: éramos todos periféricos. E isso era muito bom.
“No final das apresentações, tínhamos uma certeza: éramos todos periféricos. E isso era muito bom”
Daquele momento em diante, as experiências com a Jacaré Moda bagunçaram meu mapa. Uma bagunça boa. Trazer a periferia para o centro mudou meu jeito de pensar moda e identidade. Beleza é algo que se aprende a ver tanto em pessoas quanto em territórios. Cada periférico é um pedaço da sua periferia, por isso menosprezar uma região é apagar também a identidade de quem forma aquela comunidade.
Quando escolhemos um ponto de vista, damos preferência a um referencial. Acontece que nem sempre essa decisão é consciente. Estar ciente é ter como referência uma perspectiva que valoriza quem somos em vez de ter vergonha de dizer o nome do lugar onde moramos. Conforme a gente entende isso, vai trocando a cabeça baixa por um peito estufado e uma vontade enorme de mostrar para todo mundo o que dá pra fazer junto. Esse é o DNA da moda da resistência. O resto é consequência.
A moda feita por quem tem amor próprio e respeito ao outro produz um impacto diferente da moda que reforça padrões. Existe uma fonte criativa que só a resistência dá. Os caminhos para novas soluções surgem do exercício constante de investigar o passado e refletir sobre o futuro que a gente deseja criar. É esse exercício que me faz, cada dia mais, ter orgulho do que vejo no espelho.
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Karina Cabral tem 21 anos, é moradora do Engenho Novo, estudante de publicidade e participante da Jacaré Moda.
Créditos
Imagem principal: Reprodução - Instagram Jacaré Moda