Nos bastidores da TV

Descubra o que Bárbara Paz e Marcos Mion têm em comum

por Paulo Lima em

TRIP FM recebe Bárbara Paz e Marcos Mion

Estamos aqui como nossos convidados de honra do programa de hoje: Bárbara Paz e Marcos Mion. A Bárbara já está com seu biquíni. O Mion botou uma camiseta sem manga para não ficar atrás. Estamos aqui para bater um papo com esses dois atores que, aliás, já fizeram filme juntos e já se conhecem de longa data.

Bárbara, obrigado por você ter vindo, é um grande prazer te receber. A gente conhece o seu trabalho de atriz, de modelo também. Você estava contando que chegou a fazer umas fotos que foram lá para a TRIP.

Bárbara Paz: Há muitos anos, tinha dezessete anos.

Paulo Lima: Muito legal saber que você está aqui com a gente hoje. Mion já é sócio do programa, já veio várias vezes. É sempre um prazer recebê-lo. Ele, que inaugurou um novo tipo de humor na televisão, fez um grande sucesso na MTV, depois foi para a Bandeirantes, inventou o Corvo, uns arremessos de anão...  Ele fez uma revolução na Bandeirantes e está aqui com algumas novidades para contar para a gente. Mion, obrigado por você ter vindo também.

Marcos Mion: Imagina, obrigado eu, Paulo. É sempre um enorme prazer, e esse título de sócio depois a gente tem que conversar melhor, hein?

PL: Vai querer uma verba.

MM: Quero uma porcentagem.

PL: Olha, eu vou entrar logo na entrevista. A gente estava conversando aqui sobre o reality show do Sílvio Santos, a Casa dos Artistas, todo mundo deve lembrar. A Bárbara fez parte da primeira escalação do programa e ganhou o prêmio máximo, ganhou uma grana e tal. Você estava me contando que o processo de te chamarem foi uma coisa meio surpresa. Como é que foi?

BP: É, na verdade tem muito músico de jazz tocando pagode porque precisa sobreviver, né? Então, foi mais ou menos por aí. Foi muito de repente o convite. Na quarta-feira eu fui convidada e domingo já estava na casa. Eu não tive muito tempo para pensar. Vi o salário que ia ganhar, uma puta grana, e falei "OK". "Você pode ficar uma semaninha ou ficar dois meses e ganhar o prêmio, o que acha"? Eu respondi: "Ah, topo".

PL: Mas você tinha noção do que era aquilo, do quanto ia se expor?

BP: Imagina, Paulinho. É o que eu estava te falando, foi uma coisa muito louca. Nunca foi meu intuito virar uma celebridade, ter essa notoriedade. Quando fui convidada, não tinha noção do que ia acontecer comigo, não tinha a mínima noção! Então, fui para lá na boa, como uma atriz mambembe, querendo ganhar minha grana e viver um pouco. E foi legal, foi um jogo bacana. Depois que saí dali eu virei, fui para uma maré e não conseguia voltar. Eu falei: "Cara não era isso que eu almejava muito". Foi muito bom, muito bom para a minha carreira, como para a Bárbara. Fiquei bastante conhecida, as pessoas vão ao teatro me assistir hoje, mas tem os dois lados, né? É meio um pacto, tem o lado bom e tem o lado péssimo, né? Tem um julgamento: "O que você fez"?. Essa exposição toda, né?

PL: Isso é um problema que, de certa forma, para os atores em geral é muito sério hoje em dia...

MM: Eu, para conseguir atuar hoje em dia - porque a minha raiz é de ator, foi o que estudei, eu sou formado. Quando chego em um hotel, tem lá "profissão", eu escrevo ator, não escrevo outra coisa. É  uma dificuldade conseguir um papel bom porque hoje em dia as pessoas meio que rotularam aquela função do ator de se transformar, de usar seu corpo, de criar trejeitos. Hoje em dia não conta mais...

BP: É diferente, né, Marcos? Eu entendo isso, sim, mas também tenho um julgamento hoje para esses reality shows. Depois do primeiro, as pessoas vão ali para aparecer, para ter um minuto de fama, notoriedade. Eles não querem saber, estão ali fazendo um comercialzinho, talvez nem para ganhar dinheiro, mas para ter um minuto de fama, um minuto de notoriedade. Eles não querem saber, é o desfile do corpo.

MM: Eu estava falando dessa dificuldade que você disse de depois voltar a atuar e ter esse prejuízo. Eu tenho essa dificuldade, e todo mundo olha para mim e fala: "Não, você é muito ligado à modernidade, não dá pra te colocar interpretando um latifundiário, na fazenda".

BP: Um Shakespeare?

MM: Não dá, "você é muito moderno para isso", mas, porra, eu sou ator! E onde vai parar a interpretação? Eu só tenho que interpretar jovens modernos?

BP: É o que acontece comigo. Eu estou fazendo uma peça do Oscar Wilde no Rio, A Importância de Ser Fiel, que se passa em 1895. É uma hipocrisia, uma ironia que o Wilde faz em cima da sociedade, da classe dominante. Enfim, as pessoas vão assistir, essa peça é uma sátira em cima da sociedade. O que rola naquela época, rola hoje, só mudam as roupas. Todo mundo querendo aparecer, aparentar o que não é. As pessoas saem do teatro e falam assim: "Nossa, você é atriz mesmo!" [Risos.] É ótimo isso!

PL: Marcos, insistindo um pouco nessa história do reality show , é o seguinte: a Bárbara Paz , quando fez a Casa dos Artistas acabou se apaixonando pelo Supla, teve um romance com ele e o Brasil inteiro ficou torcendo, apostando, vendo aquele romance se desenvolver. Você namorava, foi namorado de uma menina que estava com eles, que é a Patrícia...

MM: Você não tem noção... Independente disso, eu já estava namorando outra pessoa na época, mas passava mal. Ficava com gastrite. Quando eu ligava a TV, sabia que eles estavam falando de mim porque, apesar do corte e da edição, pô, estava lá a Bárbara, que é minha amiga há muito tempo... Pô, a gente sempre se adorou. Daí, a Patrícia, é minha ex-namorada; o Supla, que era tipo minha cria na época [risos]; o Alexandre Frota, que era aquela coisa polêmica, ia querer tretar comigo, falar mal de mim, independente de qualquer coisa. Várias pessoas que eu conhecia, então eu assistia com peso. Eu falava assim:

"Fica quieto, não abre boca [para eles que estavam na casa]". Várias vezes na edição aparecia o Frota falando: "É, existe os Piores Clipes do Mundo, mas não sei o quê...". Você falou foi uma grande surpresa, foi um susto absurdo, você vê sua vida sendo exposta na TV.

PL: Mion, você estava falando aqui comigo sobre a sua eventual volta para a Bandeirantes. Queria saber: você foi para lá, fez um programa, o Descontrole, que depois virou Sob Controle e aí, depois de uma confusão, acabou saindo do ar. Até esta semana está na Veja uma matéria do movimento dos sem-tela e não sei o quê. Como é que está hoje a sua vida com relação à televisão?

MM: Bom, eu sempre bato na mesma tecla, Paulo. Eu procuro ainda ser - apesar desse mundo todo que a gente estava conversando agora há pouco, de mídia exposta, celebridade - aquela coisa do artífice, do artista, independente de estar na TV, no palco, no livro ou no rádio. Tentar transmitir alguma coisa boa, emocionar as pessoas. Minha relação com TV sempre foi essa. Eu sempre falo isso, pode parecer hipócrita, mas na época que eu fui para a televisão trabalhava com teatro, era muito feliz e achava que ia ser professor de teatro, viver como artista que faz teatro na praça. Nunca fiquei fazendo teste para ir para a televisão. Eu fiz um teste porque me chamaram, depois que todo o meu grupo já tinha feito o teste. Era para o programa Sandy & Junior. Fiz, fui chamado e aconteceu. Eu adoro fazer TV hoje em dia, fazer parte de todo esse sistema.Você citou a matéria da Veja. Eles pegaram alguns artistas que estão em fase de transição. Pô, a maioria dos artistas sabe que no Brasil, principalmente, é muito normal isso, a carreira é feita de altos e baixos.

PL: Bárbara, o Marcos estava falando dessa vida de televisão que ele diz que não procurou. Como você lida com a megaexposição? Hoje você está fazendo teatro, que é um trabalho muito mais fechado, com muito menos exposição. Você procurou sair fora disso?

BP: Não, continua a mesma megaexposição. Não é que você sai fora, você sai da TV, eu estou há um ano fora do ar, as pessoas falam: "Mas onde você está? Por onde você tem andado?". Eu recebo cartas, e-mails e respondo: "Estou trabalhando". Fiz cinco peças ano passado e este ano fiz um longa... Ator, artista é uma palavra que tem várias conotações hoje em dia. Todo mundo é artista hoje. Tem que tomar cuidado com essa palavra assim como se fala atriz, modelo, escritora, tudo. Eu poderia ter seguido um caminho, né? Perdi uma puta grana, não saí na revista, mas tudo bem, achei que não era minha época. Eu poderia sair na Playboy, lançar um livro, apresentar um programa de auditório, pronto, ser mais uma, né? Eu não consegui, quis voltar para o meu passeio pelo mundo, o meu passeio. Eu posso não ter tanto dinheiro, eu posso não ter tanta disposição, mas quero seguir a minha metáfora. Quero estar tão mais feliz.

PL: Mion, esta história é uma que pessoalmente me interessa bastante: esse negócio da exposição excessiva. Você tinha o seu programa na MTV, era um programa cult, todo mundo achava um barato, mas tem aquela proteção de um ambiente mais fechado da MTV, com menos, vamos dizer, aspirações de Ibope...

MM: Quando eu paro e lembro, acho muito bom, falo: "Porra, eu tenho 24 anos e olha tudo o que eu já passei!". É muito legal hoje em dia você poder parar e falar: "Bom, eu já tive uma megaexposição, tive um trabalho que não teve uma megaexposição. Onde é minha praia?". Então eu acho muito legal ter acontecido muita coisa, muito rápido e cedo. Assim, posso tomar a decisão de que caminho seguir com pouca idade, com mais chance de dar certo.

PL: Você está parecendo aqueles táxis do aeroporto, aqueles Ômegas, novinhos, mas que já rodaram pra caramba.

MM: Já rodou pra caramba, exatamente. O gozado é que até hoje, faz dois anos que eu saí da MTV, acontece pelo menos umas três, quatro vezes por semana de eu ser parado na rua e cara falar assim: "Meu, assisto teu programa na MTV direto, adoro". Até hoje! Juro por Deus! De tão forte que foi o casamento meu com a marca, com programa, toda aquela criação. Até hoje as pessoas falam que me assistem lá.

PL: Bárbara, você teve dois episódios muito tristes na sua vida: a morte da sua mãe e um acidente de carro. Você falou disso na Casa dos Artistas, tornou público, etc. Não deve ter sido muito fácil superá-los. Queria que você falasse um pouquinho dessa sua força para pular essas lombadas, como disse o Mion.

BP: Eu prometi que eu nunca mais ia falar da minha vida, me expus demais já, né? Mas são bagagens. Eu não me tornei uma atriz, eu nasci atriz, eu falo, minha infância foi em hospitais e em um circo que eu ia, na esquina da minha casa. Então, enxerguei muito a vida quando era criança. Eu não lia muito, não ganhava muitos livros quando era pequena porque tinha que ficar cuidando da minha mãe. Enfim, resumindo, eu acho que tudo o que acontece na vida da gente tem que acontecer. Se esse acidente aconteceu quando eu tinha dezessete anos, que eu tinha o rostinho de princesinha, isso e aquilo, tudo bonitinho... Era para acontecer, para eu ir para um outro caminho. Hoje eu enxergo a vida de uma outra maneira. A beleza não é nada, a beleza interior é o que mais importa na vida. Se você tem tudo aqui dentro, você tem o mundo.

PL: Atualmente, os únicos que pensam a longo prazo são os banqueiros que emprestam verba. Mion, vamos falar de umas coisas alegres: eu estava vendo que você fez um papel no filme novo da Angélica e do Luciano Huck, Um Show de Verão. Um cabelereiro gay chamado Velmer, que é muito engraçado. Todo mundo que você encontra você arruma o cabelinho. Como foi essa experiência e como é que você fez para desenvolver esse personagem? Em resumo: como é que você fez para embichar na tela?

MM: [Risos]. Pô, foi uma participação que eu fiz no filme. O Luciano me chamou e eu não tinha como negar. Além de, lógico, ser um prazer trabalhar com as pessoas, pô, o Moacyr Góes dirigindo o filme, um grande diretor, o Diler Trindade produzindo, que é um dos melhores produtores, além do resto do elenco, que são pessoas já conhecidas, tipo Ingrid Guimarães, que eu admirava muito. Chegar lá e fazer uma brincadeira, era um papel que nem tinha fala na verdade, foi tudo improvisado entre mim e a Ingrid e foi muito divertido, eu morri de rir, não teve muito o que compor ali.Você quer saber? Quem interpreta melhor bicha é homem. Bicha interpretando bicha não vai. Homem interpretando bicha fica muito bom, totalmente verossímil.

PL: Você já tinha feito cinema alguma vez?

MM: Tinha feito uma vez com a Bárbara. Foi um experiência, digamos, meio projeto dogma. Era com uma câmera beta, luz ambiente, um monte de moleque bom atuando. Foi muito legal, uma experiência boa.

PL: Bárbara, por que tem essa magia toda do teatro? Tudo bem que a gente ouve desde que nasceu o Raul Cortez falar da magia do palco, mas, para o zé mané que vai lá no teatro, senta e assiste à peça, não é muito fácil entender por que os atores são tão apaixonados pelo teatro. Queria que vocês explicassem um pouco essa magia para quem está lá em cima no palco.

BP: Olha, não é muito explicável isso.

MM: Isso pode virar um papo de louco...

BP: De filosofia. Agora é uma magia única. Eu sei que quando eu pisei no palco pela primeira vez eu sabia que era ali que eu queria viver. É uma coisa, quando você entra no palco, você tem uma responsabilidade muito grande, ali você pode recriar a vida, viver, todo dia de formas diferentes. Não é como a televisão. A televisão é um exercício, o teatro é vivo. É uma coisa louca, não tem como te explicar.

PL: Quer dizer, o retorno imediato e presente é que faz a diferença.

BP: Ainda mais quando você faz uma comédia. Eu estou fazendo uma comédia. É uma maravilha isso, esse retorno do público, essa energia que você recebe. Tem muitas vezes que eu choro em comédia porque eu sou uma pessoa muito emotiva, no fim do espetáculo eu tenho vontade de chorar porque é muita energia junto. No teatro você tem a oportunidade de estudar a alma do ser humano, você estuda não só o personagem, você está se estudando, se interpretando, porque você está interpretando a vida. Então é muito bacana.

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