Deborah Colker: Sempre haverá uma cura

Primeira mulher a dirigir o Cirque de Soleil e uma das peças mais importantes na criação da abertura da Olimpíada no Rio, Deborah Colker fala de religião, grana, inclusão, ciência e mais

por Redação em

"O vestuário do bailarino é a dor", conta a coreógrafa e diretora de espetáculos Deborah Colker. O esforço físico, os ensaios à exaustão, os calos causados pela sapatilha de ponta nunca foram estranhos ao universo da dançarina, mas nenhuma mácula física conseguiu preparar Deborah para o que ela enfrentaria com a nascimento de Theo. Diagnosticado com epidermólise bolhosa, uma doença genética sem cura, ele se tornou ao mesmo tempo uma felicidade enorme para a família, como o primeiro neto, e um meio para um crescimento espiritual.

No início, os sentimentos dominantes foram de indignação e raiva, mas Deborah encontrou maneiras de remendar a alma. Buscou apoio tanto na fé quanto na ciência e hoje faz turnê com seu mais novo espetáculo, que reflete essa luta e não por acaso foi intitulado “Cura”. "A cura sempre existe. Se não é possível curar no plano físico, ela vem no plano intelectual, emocional ou espiritual", diz.

A primeira mulher a dirigir o Cirque de Soleil no mundo e uma das peças mais importantes na criação da abertura dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, em 2016, Deborah Colker bateu um papo com o Trip FM para falar ainda de religião, grana, inclusão, ciência e mais.

Deborah Colker - Crédito: Divulgação

Trip. Seu novo espetáculo faz uma mistura de candomblé com judaísmo, uma fusão não vista comumente. Você também me falou um pouco da sua mãe, uma verdadeira yiddishe mama. Como é ser judia hoje em dia?

Deborah Colker. Eu perguntei um dia para a minha mãe o que era ser judeu. Ela respondeu que ser judeu é gostar de ser judeu. A resposta me deu um alívio. Eu gosto muito e me reconheço judia em vários momentos. Eu tenho um compromisso com a vida que vem da educação judaica. Sempre fui muito estimulada a me aproximar das artes, meus pais acreditavam que a arte é transformadora. O meu lado judeu passa muito mais pela maneira de pensar do que pela religiosidade.

Você tem uma conjunção de características muito especial, algo que talvez torne o seu trabalho o que ele é. E dentro desses atributos existe uma característica que, por si só, abriga outras milhares, que é ser carioca. O que é ser carioca? Ser carioca é gostar da rua. Eu adoro a rua. Eu sou uma artista internacional, mas é impressionante como sou carioca. Já tive todas as oportunidades de ficar fora, mas eu adoro a esquina da minha casa, eu adoro beber a uma cachacinha lá. Eu gosto desse leque que o Rio de Janeiro tem: essa cidade tão misturada, tão inspirada. Eu me conecto com o mundo através do Rio.

Você é uma pessoa que trabalha muito em equipe. Mas você é brava no ambiente de trabalho ou é fofa? Fofa é uma palavra que não me cabe. Eu boto na mesa, se alguém vier com uma ideia melhor do que a minha eu logo falo que é legal. Mas se a ideia for ruim eu logo critico também. Quando eu estou fazendo algo é porque estou apaixonada: aquilo é a minha carne. Eu sou intensa, obsessiva. O espetáculo pode ser em Londres ou o de fim de ano da minha escola, é o mesmo compromisso. Sou explosiva: se precisar quebrar um prato eu quebro, mas não quebro na cabeça da pessoa, não.

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