Celular e ansiedade: como decifrar seu filho?

Um dos médicos mais influentes da internet, o pediatra Daniel Becker explica os três vilões de uma infância saudável: o vício em telas, a alimentação ultraprocessada e o confinamento das crianças

por Redação em

Quem tem filhos sabe que as redes sociais podem se transformar em um emaranhado de conselhos parentais que, na maioria das vezes, têm muito pouco a ver com ciência e servem mais para confundir do que ajudar. Por isso, ao trazer informação de qualidade e explicações bem didáticas, o pediatra Daniel Becker se tornou um dos médicos mais influentes do Instagram, somando mais de um milhão de seguidores. Mas as redes sociais não são poupadas de suas críticas, especialmente quando falamos da relação das crianças com as telas. "Não há argumento que fique de pé sobre a permanência do celular na escola. Na sala ele destrói o aprendizado, cria situações de bullying e assédio ao professor. O celular transforma o recreio, que é o último reduto do brincar – porque em casa tem celular, não tem mais pracinha ou encontro com os amigos –, em um funeral", afirma. "É preciso regulamentar as redes sociais. Cerca de 70% das crianças de nove e dez anos têm conta pessoal no TikTok, quando os termos de uso só admitem pessoas acima de 13 anos. Precisamos de uma legislação que coíba a falta de verificação da idade do usuário e também crimes como pedofilia, golpes, racismo e intolerâncias".

Em entrevista ao Trip FM, o médico compartilhou sua trajetória, marcada por uma forte atuação humanitária, e explicou os três grandes vilões de uma infância mais saudável: o vício precoce em telas, a alimentação ultraprocessada e a diminuição do espaço da criança no mundo, que vai das praças e parques ao confinamento do quarto. Você pode conferir o papo completo no play acima ou no Spotify. 

Crédito: Arquivo pessoal

Trip. Como a gente resolve o problema do vício das crianças nas telas quando nós mesmos estamos doentes?

Daniel Becker. A primeira coisa que precisamos entender é que não são as famílias, individualmente, que vão resolver o problema do vício nas telas. Nós estamos enfrentando as empresas mais poderosas do mundo, que investem bilhões em neurociência e programação para nos viciar. Isso resultou na maior crise de negacionismo científico, vacinal, climático da história – e que ameaça a nossa sobrevivência como espécie. Aí você olha para as crianças. Além de os pais estarem viciados, a vida moderna não favorece o contato e o vínculo fundamental no desenvolvimento da criança. Isso porque se chega tarde em casa, é preciso fazer tarefa e cozinhar. A criança se sente cada vez mais desvalorizada. Claro que a solução pra gente descansar um pouco é deixar os pequenos na tela e então eles passam cinco, seis horas, no TikTok, sendo formados por esse bando de imbecis, idiotas, golpistas, pedófilos e influenciadores de toda a sorte de malefícios, exposta a riscos incalculáveis, sem proteção ou supervisão. A infância está cada vez mais encolhida. O território que antes era o bairro, virou um quartinho e aquela plaquinha de metal e plástico, o celular. Com isso você encolhe as experiências fundamentais da infância que são aquelas que vão definir a sua vida adulta, com saúde física e mental. A vivência infantil é a base da saúde mental do ser humano.

E o celular nas escolas? Não há argumento que fique de pé sobre a permanência do celular na escola. É fundamental deixar o celular quando entra e pegar quando sai. Na sala ele destrói o aprendizado, cria situações de bullying e assédio ao professor. O celular transforma o recreio – que é o último reduto do brincar, porque em casa tem celular, não tem mais pracinha, não encontra mais os amigos – em um funeral.

Quais são algumas das soluções? A gente precisa regulamentar as redes sociais, o que muita gente não quer para continuar a construir essas muralhas de fake news. É preciso passar uma legislação que regulamente os crimes cometidos, entre eles o crime de não verificar idade de usuário. Cerca de 70% das crianças de nove e dez anos têm conta pessoal no TikTok, quando os termos de uso só admitem pessoas acima de 13 anos. Precisamos de uma lei que coíba pedofilia, golpes, racismo e intolerâncias.

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Imagem principal: Arquivo pessoal

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