Andréa Beltrão só quer nadar e jogar bola
Atriz não esquiva do debate sobre envelhecimento, mas recusa rótulo de porta-estandarte contra o etarismo e tem muito a dizer
Andréa Beltrão não tem medo de se posicionar quando o assunto é envelhecimento. Desde que deu vida à Rebeca, uma mulher de 50 anos que recusava qualquer caixinha que a limitasse na novela “Um Lugar ao Sol” (2021), na Globo, a atriz assumiu um lugar de destaque nesse debate. Mas ela tem muito mais a dizer. “Todo mundo começou a me chamar para falar de menopausa. Pera aí! É crucial discutir esse tema, mas não é legal designar uma pessoa para falar sobre isso apenas por causa de uma novela, que, embora tenha sido incrível, não me torna a embaixadora. Somos muitas, somos todas. Prefiro ser reconhecida como a ‘mulher que não sai da praia’. É assim que quero ser chamada", diz. E não sai mesmo. Entre a natação no mar de Copacabana e a altinha, seu novo vício, ela nem mais se incomoda com a presença dos paparazzi atrás de uma foto de biquíni. "Não me afeta, afinal, estou lá todos os dias; essa foto vai enjoar. Se começou valendo duzentos reais, hoje nem paga mais o Chicabon".
Em uma conversa descontraída com o Trip FM, Andréa falou sobre maternidade, vida e morte, fama, empreendedorismo e seu novo trabalho, "Lady Tempestade". Com estreia marcada para janeiro, a peça conta a história da advogada Mércia Albuquerque, que lutou para defender presos políticos durante a ditadura e apoiar suas famílias. Você pode ouvir a conversa na íntegra no play aqui em cima ou no Spotify.
Trip FM. Vamos falar sobre o assunto mais importante: a natação.
A natação é uma parte muito importante da minha vida ordinária, é um lugar só meu. Não é um lugar do bem-estar, porque eu acho que na civilização não há esse lugar do bem-estar absoluto, é um lugar de entrega. Eu gosto muito de um certo anonimato possível que eu até consigo nas minhas idas à praia. Pode ter até alguém me fotografando, mas não me afeta, até porque eu tô todo o dia lá, essa foto vai enjoar, se começou valendo duzentos reias, hoje já não paga nem mais um Chicabon. Essa vidinha ordinária de nadar, ler um livro, jogar uma altinha que agora é a minha nova mania, é vital. Eu me sinto muito atraída pelo fazer, correr, subir em árvore. O tempo vai passando e os limite vão aparecendo. Tudo bem, mas a praia tem a ver com essa força, essa paixão pela vida.
Como você avalia hoje o seu papel como mãe? Os filhos geralmente vêm em uma época em que você está com muita garra de trabalhar, coisas para fazer, desejos, impulsos. Então os pais ficam muito mais ausentes do que gostariam de estar. Mas eu gosto de trabalhar, do convívio, de estar com outras pessoas, do reconhecimento financeiro. É um equilíbrio delicado. Eu acho que me saí razoavelmente bem: meu filhos são pessoas legais. Mas precisa ter atenção, o chamado de fora é muito forte. Essa coisa tão prosaica de desenhar, fazer o carrinho andar, vestir a boneca, pode parecer quase nada, mas é muito grande. A gente nem sabe quando isso vai se transformar em uma explosão maravilhosa lá na frente. O afeto faz um caminho muito forte.
Como você tem lidado com esse papel de ser a voz da mulher de 50/60 anos? Depois de “Um Lugar ao Sol” começaram a me chamar pra fazer matéria de capa para falar de menopausa. Pera aí. Eu não vou virar porta-estandarte para falar de menopausa e seus efeitos. Esse assunto tem que ser muito discutido, mas não é legal eleger uma pessoa para falar disso por conta de uma novela, que foi legal à beça, mas não me faz a embaixadora. Somos muitas, somos todas. Eu prefiro o posto da mulher que não sai da praia. Eu quero que me chamem assim.
Créditos
Imagem principal: Lucas Seixas (@retratoslucas)