fotoS: pamela amy POR: naruna costa

Nos últimos 10 anos, a atriz
Naruna Costa lida com os altos
e baixos da doença e divide
um relato sobre abandono,
autocuidado e cura

Uma cruzada
contra a
endometriose

“A minha história com
a endometriose começa antes
mesmo de eu saber que a doença
existia e me identificar com ela,
porque minha mãe teve
endometriose e não foi
diagnosticada. Quando
aconteceu comigo, a gente
entendeu o que tinha acontecido
com ela no passado”
“No ano em que meu marido
descobriu um câncer, a minha
dor da endometriose começou
a aparecer. Eu sentia cólicas
e dores na região do umbigo,
o que me fez achar que eu podia
estar com alguma hérnia, mas
foi um período em que eu estava
cuidando do meu marido, então
acabei deixando o cuidado com
o meu corpo para depois”
“Em 2014, quando meu marido
morreu, tive um ano de luto
profundo - e como nunca tive
acesso à terapia, plano de saúde
ou cuidados holísticos,
me desapeguei de qualquer
autocuidado. Ali, minha relação
com o corpo era de abandono,
porque aquele sofrimento era
muito intenso”
“Em 2015, me dei conta de que
estava realmente doente.
Na menstruação, as dores eram
intensas, não conseguia levantar,
não dava para fazer meus
trabalhos. Quando finalmente
fiz exames mais detalhados,
descobri a endometriose, essa
doença que funciona de formas
diferentes no corpo
de cada mulher”
“Fui operada no final de 2016.
Quando acordei dessa cirurgia,
eu urrava de dor. Entrei achando
que faria uns furinhos na
barriga para tirar pequenos
focos de endometriose
do ovário; saí de lá sem um
ovário, sem uma trompa e sem
a parte de um nódulo intestinal”
“Tive muita dificuldade de entender
o quanto precisava me cuidar,
mas consegui. Até que, no ano
passado, a dor no umbigo voltou
– e descobri um endometrioma
umbilical, uma forma rara
da doença, que atinge apenas
4% das pacientes. Passei o último
natal sendo operada”
“Para ocupar os espaços que
nós temos tentado ocupar hoje,
matamos um leão por dia. Nesse
processo, o olhar para o nosso
corpo pode acabar ficando
de lado, especialmente em
um mundo tão masculino”
“Acho importante lembrar que não
é fraqueza nenhuma dedicar
um tempo, uma pausa, uma atenção
ao nosso organismo. A gente
quer, merece e tem direito
de chegar a posições melhores,
mas não podemos nos sentir
culpadas por dedicar tempo
a nós mesmas”
“Ser uma ‘mulher guerreira’
e ser uma mulher preta nesse
país envolve tudo isso, mas
resistência também é garantir
o direito a uma vida longa –
e isso, sim, é revide. Sem cuidado
com a saúde mental, com a saúde
física, com a saúde espiritual e
energética, a gente não chega lá”

é outra
conversa.