POR: renata veneri

Projeto leva ioga, dança,
moda e liberdade para
mulheres da periferia
de São Paulo

Treino na laje

A podcaster Diolanda Lopes
tem seu mantra tatuado
na perna: “Quem acredita
sempre alcança”. Quando
chegou no Treino na Laje
ela não tinha a autoestima
que tem hoje. “Faço arte
e só agora sei disso”, diz
O projeto nasceu há 3 anos,
quando a ativista social
Sophia Bisilliat – que ao longo
de mais de uma década ofereceu
cursos de arte para os detentos
do Carandiru – resolveu levar
a ioga para as mulheres da
periferia de São Paulo
Eu sempre quis estar
na favela, conviver com
as pessoas da quebrada.
Dar aula de ioga, que me
ajudou tanto pessoalmente,
foi como unir o útil ao
agradável, conta ela
A primeira aula teve a
presença de apenas duas alunas.
Hoje, são quase trezentas
mulheres mexendo o corpo e
sacudindo a vida – de forma
individual e coletiva
“Comecei a treinar pra
ficar com o cu duro”, diz
a atendente Sandra Soares.
Três anos depois, vê o
tanto que evoluiu: “A ioga
me deixa em paz e me prepara
pra vida. Virei referência
para outras mulheres“
Sandra arrastou a irmã
pra laje. “Esse negócio de
não ter tempo é mentira.
Se tem tempo pra tudo, tem
que ter tempo pra você. Antes
sentia dor de cabeça, dor nas
pernas. Passou tudo”, diz
a passadeira Sônia Soares
A estudante Heloisa
Machado convenceu a mãe
a experimentar a ioga junto
com ela: “Vi muitas mulheres
fazendo e me inspirei. Gostei
da aula e fiquei. Acalma a
mente, deixa a gente relaxada”
“Achava que a ioga não
era pra mim por estar ‘fora
do padrão’. Meu corpo estava
enferrujado, mas descobri
que ele pode tudo e fui
ficando mais segura”,
conta Marlene Machado,
mãe de Heloisa
A boleira Neusa Raimundo
diz que não é simples evoluir
nas posturas da ioga, mas
adora a prática e a compara
com a vida: “Se você não lutar,
não vai conseguir. Mesmo
lutando às vezes não consegue,
mas pelo menos tentou”
A laje também virou palco de
dança. Nas aulas da bailarina
Débora Veneziani o corpo vira
ferramenta de autoconhecimento.
“Temos uma troca linda sobre
amor e autoaceitação.
O feminino é coletivo”
O funk reina quase
absoluto. nas aulas de
Débora: “Rebolar a bunda e se
sentir gostosa faz a mulher
amar o próprio corpo sem
pensar em padrão. Quando
uma mulher se movimenta
para ela, se movimenta
também para o mundo”
Com o movimento físico,
a cabeleireira Samara Souza
conseguiu sair da depressão.
“Aprendi a me valorizar.
Não deixo ninguém falar
que tô gorda, que tô feia.
Tô gata, tô gostosa,
tô plena”, conta
O Treino na Laje também é
moda! Idealizadora do projeto
“Transmutações do Feminino”,
a personal stylist Talita de
Lira leva dicas de estilo para
as mulheres da quebrada
“Quando elas analisam as
cores da própria natureza
passam a enxergar a
comunidade e as ruas
de outra forma. Nossos
encontros evidenciam as
narrativas da periferia.
É transformador!”, diz
Ioga, dança, moda. A
auxiliar de limpeza Dilma
Costa achava que isso tudo
era ‘coisa de rico’. “Depois
que comecei, minha vida
mudou. Meu corpo alcança
posições que nunca imaginei.
E não é só na ioga: é no
sexo também” 
Juntas, essas mulheres trocam
informações e experiências.
“Aqui, uma aprende com
a outra. Cada uma tem
um jeito, mas a gente se
respeita, se dá força, se
anima, se abraça, se ajuda”,
diz a auxiliar de limpeza
Viviane dos Santos

é outra
conversa.