Segundo a filósofa e historiadora italiana, é impossível falar na luta das mulheres sem olhar para o sucesso do capitalismo no controle do corpo feminino
Por: Gabriela Borges
O feminismo de Silvia Federici
Desde o lançamento de “Calibã e a Bruxa” (2004), seu ensaio mais famoso, Silvia Federici tem feito muita gente pensar na relação do feminismo com o movimento anticapitalista
Crédito: reprodução
No livro, a filósofa e historiadora italiana defende como o fenômeno da caça às bruxas, principalmente na Europa, foi essencial para o desenvolvimento do capitalismo
Crédito: reprodução
Segundo Silvia Federici, este sistema foi fundado no trabalho doméstico gratuito das mulheres e no trabalho escravo
Crédito: Taba Benedicto/ divulgação
Quem lutava contra ia para a fogueira. Como consequência, ao longo da história perdemos nossos direitos e o controle sobre nossos corpos
Ela define como “feminismo de Estado” o movimento que vendeu como emancipação a integração da mulher na economia global como força de trabalho barata
“Esse tem sido um grande projeto das Nações Unidas e dos governos a partir da metade dos anos 70, quando o capitalismo enfrentava uma forte crise econômica e política. Melhorar a situação das mulheres, mas sem mudar a sociedade”
Para a escritora, este projeto também tem como objetivo domesticar o feminismo, eliminando seus aspectos mais subversivos, que focam nas mudanças sociais, para manter o mesmo sistema social e econômico
Crédito: Taba Benedicto/ divulgação
“Hoje vemos que a maioria das mulheres, a nível mundial, trabalham fora de casa, e trabalham em condições horríveis. Sem autonomia econômica real, sem segurança”
Ela afirma que mulheres seguem sendo mortas por bruxaria em países da África, Ásia, América Latina e na Índia, além de serem perseguidas no mundo por encabeçar resistências no campo e na cidade
“Outra tendência do capitalismo sempre foi de proibir a reprodução de parte da população da qual eles têm medo. Muitas mulheres negras nos Estados Unidos foram esterilizadas, por exemplo”, diz
“E por isso que eu acredito que a luta pelo direito ao aborto sempre se deve juntar a uma luta pelo direito de ser mãe”
Para Silvia Federici, há uma nova geração de jovens feministas que não têm tantas ilusões como as mulheres dos anos 1970 e se dão conta que esse mundo não é sustentável
“Hoje, as mulheres são as que encabeçam as resistências no campo, na cidade. Ou são mulheres que tentam construir desde a base formas de defesa da vida”
“Decidir coletivamente, tomar decisões coletivas, cooperar e não competir: esse é o feminismo com o qual eu me identifico”