Por: Dandara Fonseca
Imagens: arquivo pessoal/ divulgação

Traços da
infância

A artista paulistana JuNa
transforma desenhos de crianças
que estavam esquecidos no
armário em obras de arte
cheias de personalidade,
cores e significado

Quando começou a receber
os desenhos que sua filha,
Lara, fazia na escola,
Juliana Nascimento ficou
orgulhosa, mas não queria
simplesmente deixá-los
guardados

Usando um quadro vazio que
tinha em casa, resolveu
reunir todos aqueles traços
infantis em uma grande obra.
Feliz com o resultado,
começou a fazer mais
e mais testes

Aos poucos, Juliana percebeu
que não estava sozinha:
outros pais também não
sabiam o que fazer com
as artes dos filhos

“Esses traços e desenhos
guardam as memórias, os
afetos da criança. Eles
são a forma que ela traduz
e entende do mundo”,
explica JuNa

“Quando você pensa que
toda aquela produção
artística está guardada
dentro de um armário, sem
olhar, não faz sentido.
Jogar fora, então, é
apagar parte da identidade
de um ser”

Depois de quase 15
anos trabalhando no
mercado corporativo,
a administradora decidiu
assumir esse trabalho como
profissão. “Eu brinco que
a Lara despertou a artista
que eu sou hoje”, diz

2019

Para ela, não ter formação
na área só contribui com
sua produção: “Isso me
ajuda a ter um traço
parecido com o infantil,
que não tem regra, é
desfigurado e permite
o erro, o que eu amo”

Todo trabalho de JuNa começa
com um mergulho nos desenhos
infantis e no universo de
cada criança, passando por
processos de composição,
recorte, colagem, repintura
e emolduração

Ao fim, a artista escreve
uma carta, que vai atrás
de cada obra. “Nela, eu
incentivo a criança a
acreditar em seu potencial
criativo, e a nunca perder
a conexão com a alma que
tem na infância”

Com os depoimentos que
recebe dos pais, emocionados
por se conectarem novamente
com desenhos muitas vezes
esquecidos, JuNa percebe
o que aquilo significa para
os pequenos artistas

“Vários pais dizem que
as crianças ficam muito
orgulhosas de ver sua arte,
antes guardada, ganhar
destaque em um quadro
na parede da sala”

Para JuNa, seu trabalho
também joga luz em
características das
crianças nas quais todos
deveriam se inspirar, como
a leveza, a espontaneidade,
a liberdade e a curiosidade

“No processo de
adultização, nós vamos
botando camadas e mais
camadas que não são nossas,
mas sim sociais, culturais,
dos nossos pais. Dessa
forma, vamos abafando
quem a gente é”

“Através da expressão
artística, busco que nossa
sociedade valorize mais
a infância. Quero trazer
luz para a potência do ser
criança, para que o adulto
traga mais da magia que
elas possuem para si”

é outra
conversa.