POR: Camila rosa
ILUSTRAÇão: mariane ayrosa A falta de uma rede de apoio,
isolamento social e sentimentos
de culpa e vergonha fazem
parte da rotina de milhares
de mulheres brasileiras
Ser mãe
solo no
Brasil é foda
O termo ‘mãe solo’ surgiu
para designar mulheres que
são inteiramente responsáveis
pela criação de seus filhos,
o que inclui garantir o
sustento financeiro da família
Só no Brasil, segundo dados
do IBGE, cerca de 11 milhões
de mulheres vivem essa
realidade e precisam se
dividir entre o trabalho
e os cuidados com os filhos
A crise pegou em cheio essas
mulheres. Segundo dados do
Instituto Locomotiva, 35% não
têm renda suficiente para
comprar alimentos e 31% não
estão conseguindo adquirir
itens de higiene
Para piorar, muitas mães
solo não têm rede de apoio,
alguém que possa cuidar
das crianças enquanto elas
correm atrás da grana que
está faltando, resolvem as
pendências da casa ou tiram
um tempo pra descansar
“Quando chego em casa
do trabalho ainda tenho
que passar, lavar, fazer
comida e cuidar dele. Não
sobra tempo nenhum”,
diz Fernanda dos Santos,
23 anos, mãe de Ian
Lorenzo, de 4
Fernanda é mãe solo desde
que foi vítima de violência
doméstica e se separou do
pai do garoto. Ela também não
pode contar com sua família
e às vezes precisa levar
o filho para o trabalho
“Minha mãe usa cocaína
e crack. Não tenho coragem
de deixar o Ian com ela.
Às vezes não tem jeito,
levo pro restaurante
comigo”, conta
Situações como essa,
comuns ao cotidiano de mães
solo sem rede de apoio,
acabam prejudicando na
hora de conseguir ou
mesmo manter um emprego
“Quando fui fazer a
entrevista, me perguntaram
se eu tinha certeza que
queria trabalhar, pois não
poderia faltar para levar as
crianças ao médico. Agora
tento ao máximo evitar que
fiquem doentes”, diz Silvia
Ferreti, 24, mãe de duas
crianças pequenas
O abandono de uma mãe
solo também é social.
“Quando descobrem que
tenho dois filhos, sempre
me olham com dó. Namorar
é impossível. Me perguntam:
‘como vai ser quando eu
quiser sair só com
você?’“, diz silvia
Mesmo se desdobrando para
fazer o melhor em condições
tão adversas, culpa e
vergonha são sentimentos
comuns a muitas delas
“Queria ter mais tempo
para curtir essa fase.
Me cobro o tempo
todo para ser uma mãe
melhor, nunca sou 100%
para mim e nem para ele”,
desabafa Fernanda
“Eu me sentia um patinho
feio na sociedade, mas
comecei a cair na real.
Não são as pessoas que
cuidam, que levam ao
médico, que dão amor
e carinho. Sou só eu”,
DIZ DANYELLE ARAÚJO, MÃE
DO JOAQUIM DE 4 ANOS