POR: denise meira do amaral fotos: JAL VIEIRA/ @JALVIEIRA
Um papo com Guilherme Terreri, que dá vida à drag queen
Rita Von Hunty: consciência de classe com humor
Com uma peruca penteada para trás, cílios postiços e uma Barbie fake nas mãos, Rita Von Hunty explica em apenas cinco minutos o que é consciência de classe em seu canal no YouTube “Tempero Drag”
A publicação, que já foi reproduzida mais de 800 mil vezes, traz Roxellycsen, uma jovem cheia de sonhos que acredita ser uma Barbie, mas na verdade é uma boneca de R$ 1,99
“Ela é uma escala, em menor tamanho, de você, pobre de direita ou classe média baixa, que tem certeza de que é rico”
“E, assim como Roxellycsen não é a Barbie, você não faz parte da elite brasileira”, alfineta Rita em tom professoral
Divertida, performática e didática, Rita é a persona drag criada em 2013 pelo professor Guilherme Terreri para aprofundar e debater temas como capitalismo, gênero, masculinidade tóxica e democracia
Além do canal do YouTube, Rita dá aulas e oficinas em eventos e universidades e apresenta o programa de TV “Drag Me As A Queen”, no canal E!
“Rita é uma persona. E a persona é diferente de um personagem, porque qualquer pessoa pode fazer a Julieta ou Romeu, por exemplo. Mas ninguém vai poder fazer a Rita”
“Através da Rita posso mobilizar e tocar afetivamente as pessoas. Existe um encantamento artístico, existe catarse, existe humor”, conta ele
“Uma vez fui convidado a dar um curso sobre a história do capitalismo para o sindicato dos bancários no Rio. E uma das pessoas estava com a mãe, uma senhora negra de mais de 70 anos”
“No intervalo, ela me falou: ‘Estou feliz porque estou conseguindo entender’. Senti muita vontade de chorar. Cenas como essa fazem parte do combustível da minha vida”
Em um momento de profunda crise política, como o que enfrentamos no Brasil, o trabalho de Rita se torna ainda mais fundamental
“Está todo mundo tentando entender como chegamos aqui. Na minha visão, o conservadorismo está intimamente ligado com uma despolitização da classe trabalhadora”
“Quando a classe se despolitiza, empobrece, se enfurece e não consegue se mobilizar em outra direção, se mobiliza em direção ao fascismo, ao grande pai, a ordem, ao grande salvador, ao messias”
“O nazifascismo opera em muitas frentes. Existe uma frente emocional, que é uma das frentes em que estou lutando. Para estimular a reflexão na contramão dessa política de aniquilação, de genocídio”
“Cada vez que conseguimos enfraquecer sentimentos de xenofobia, de LGBTQIA+fobia, de machismo, que tentamos entender coletivamente quem somos, é mais fácil mobilizar contra quem move as peças contra nós”
“A violência contra nossas identidades e nossos corpos foi construída via processo histórico. O mundo não começa violento contra nós”
“O cristianismo e outras religiões monoteístas, a divisão do trabalho e reprodutiva, a ideia de família nuclear e do pecado são responsáveis por essa violência”
“São muitas frentes de combate. É preciso garantir direitos, educação, emprego, políticas públicas e sociais de não-exclusão de pessoas trans. Precisamos visibilizar os corpos e vozes ainda tão invisíveis”