Por: Juliana Gonçalves
Ilustrações: Mariane Ayrosa

A importância de
profissionais negros
para cuidar da saúde
mental de quem é
oprimido pelo racismo

Por que precisamos
de mais psicólogos negros?

Saber-se negra é viver
a experiência de ter sido
massacrada em sua identidade,
confundida em suas
expectativas, submetida
a exigências, compelida
a expectativas alienadas
Essas são palavras da
psicanalista baiana Neusa
Santos no livro “Tornar-se
Negro”, publicado em 1983
e a primeira referência
sobre a questão racial
na psicologia
Desconhecida da maioria
das pessoas, inclusive
dos profissionais de saúde
mental, ela refletiu sobre
como a negação da própria
cultura e do próprio corpo
atinge a subjetividade
de pessoas negras
“Não há um sujeito negro
que não vá viver efeitos
produzidos pelo racismo,
diz Maria Lucia da Silva,
fundadora do Instituto Amma
Psique e Negritude, que
traz a pauta racial para
dentro dos consultórios
“Não nascemos negros,
nos tornamos a medida
que conseguimos fazer uma
leitura da nossa trajetória
por meio das experiências
de discriminação vividas”
Segundo ela, o tornar-se
negro tem uma dimensão
política importante ao
perceber que o lugar ocupado
na sociedade está fortemente
ligado ao pertencimento
de um grupo e não apenas
a questões individuais
Anos atrás, essa percepção
fez a diferença no tratamento
de Adriana Barbosa, fundadora
da Feira Preta, quando ela
era uma das únicas negras
numa universidade privada
em São Paulo
“Eu acreditava que tinha
problemas por excesso
de timidez e relação
interpessoal ruim, mas
a minha introspecção
vinha na verdade da
questão racial”, conta
ela, que faz terapia há
mais DE uma década
Após passar por diversos
terapeutas, ela optou
por um profissional
negro. “Percebi que a
terapia com os outros
não dava conta das minhas
subjetividades enquanto
mulher negra, diz
“Foi com profissionais
negros que tive a dimensão
do quanto os processos
de racismo estrutural e
institucional se misturavam
com os meus dilemas
e até interferiam no
meu comportamento”
Pensando nisso, as
psicoterapeutas Laura
Augusta Almeida e Tainã
Vieira criaram em 2016
a Rede Dandaras, um espaço
de promoção de saúde
para mulheres negras
“O intuito é conectá-las
com profissionais
negras que reconheçam
a necessidade de haver
interseccionalidade
na sua atuação”,
explica Laura
Desde 1995 lidando com o tema
de saúde mental e racismo,
Maria Lucia acredita que
não há o reconhecimento da
grande parte dos psicólogos
de que o racismo produz
sofrimento psíquico
Uma das ações promovidas
pelo Instituto Amma é
justamente auxiliar na
formação de psicólogos
brancos e negros para que
a escuta com relação a
questão racial não seja
relativizada 
Para ela, o exercício de
uma psicologia que leve em
consideração essa opressão
social seria benéfico para
toda a sociedade, já que
o racismo produz efeitos
para todos
“A diferença é que para
os brancos o racismo cria
um sistema de privilégios
e para negros de opressão”,
conclui

é outra
conversa.