É preciso uma aldeia para educar
uma criança, mas, para a maioria
das mulheres, ter rede de apoio
ainda é uma realidade distante.
Como construir relações que tornem
o processo de criar um filho
menos solitário?
Por que
as mães estão
tão sozinhas?
fotos: FLORA NEGRI / maria ribeiro / arquivo pessoal A romantização em torno das mães,
de quem se espera darem conta
de tudo sozinhas (e sorrindo),
resulta numa sobrecarga de tarefas
descomunal. E a mesma sociedade
que cobra tudo das mulheres nega
a criação das crianças como uma
responsabilidade coletiva
O resultado é que a maternidade
ainda é muito solitária para
as mulheres – em todos os sentidos.
De acordo com um levantamento
realizado entre as seguidoras
da Tpm, 47% das mães recebem ajuda
somente esporadicamente e 23% nunca
contam com uma rede de apoio
explica a educadora parental
Lua Barros, mãe de João, Irene,
Teresa e Joaquim
“O processo de virar mãe é uma
travessia em que ninguém mais vai
te acompanhar. A rede de apoio
não tira você da solidão, mas faz
companhia para o seu maternar”
“Pode ser uma pessoa, um grupo
ou uma instituição, como a escola,
que faz sentir que não estamos sós
no processo de educar e de criar.
Fui entendendo que nossos filhos
podem ter outros laços de afeto
e que formas diferentes de cuidar
ou ver o mundo não são uma ameaça
à minha maternidade”
A comunicadora e criadora
de conteúdo Gabi Oliveira pontua
que também é papel da rede de apoio
não deixar a mãe se isolar.
“As pessoas precisam continuar
convidando as mães. Muitas vezes
elas vão dizer ‘não’, mas em algum
momento o convite será oportuno”
“Eu já me colocava na posição
de rede de apoio para outras amigas
que são mães, mas, depois
da maternidade, entendi que isso
é primordial para que as mulheres
mantenham a sanidade”
“Aprendi desde cedo a pensar
em comunidade. Não adianta criar
os filhos de forma individual: a rede
é importante para a construção
de valores e para que a criança
entenda que o coletivo faz diferença”
acredita Gabi,
mãe de Clara Lua, 5, e Mario, 10
A escritora e criadora de conteúdo
Verônica Oliveira lamenta que muitos
pais não são responsabilizados
pela criação e educação dos filhos:
“É importante normalizar o cuidado do pai com os filhos. Pai não
é ajuda. Pai não é rede de apoio.
Pai é pai”
“Acham que a mãe não pode ter
nenhuma outra atividade que
não cuidar do bebê. Mas, às vezes,
essa é a única maneira de manter
a vida profissional”
Mãe de Claire, 23, Ian, 14, e Olívia,
1, ela acredita que o cuidado com
os filhos está tão atrelado à figura
da mãe que até mesmo rede de apoio
paga é mal-vista.
“Meu filho, Ian, está no espectro
autista. Tenho outras amigas que
também são mães de crianças autistas
ou com outras deficiências e nos
apoiamos muito. A gente se encontra,
desabafa... As outras pessoas não
fazem ideia da dimensão que é”
Ela relembra que as mães
de adolescentes são
completamente esquecidas:
“É como se a vida já tivesse sido
resolvida. As pessoas pensam que
as mães só precisam de rede de apoio
no puerpério. Mas e depois? A ajuda
deve ser para o resto da vida”
“Lembre-se de sempre chamar
suas amigas mães para sair
– e não somente para eventos
family friendly. Além da maternidade,
as mães têm uma vida”, diz