POR: juliana sayuri
ilustrações: adams carvalho
/ trip

Eles têm milhões
de seguidores e estão
a caminho dos milhões
de reais. Como tanto
protagonismo afeta
o desenvolvimento
de uma criança?

Pequenas
crianças,
grandes
negócios

Imagens: reprodução
Aos 13 anos, as gêmeas
Melissa e Nicole Jakubovic
acumulam mais de 14 milhões
de inscritos no canal
de YouTube Planeta das
Gêmeas, iniciado em
novembro de 2015
A fama na internet
extrapolou o mundo virtual
e rendeu outros negócios
às duas como uma loja de
roupas infantis, um livro
e uma peça de teatro.
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“Para elas, sempre será
uma brincadeira. Eu é
que trabalho”, afirma
a mãe das meninas Camila
Jakubovic, que faz os
roteiros, filma, edita,
cuida dos contratos
e gerencia a empresa
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Melissa e Nicole são
apenas um exemplo do
sucesso dos influenciadores
digitais mirins, crianças
que atraem cada vez mais
a atenção das marcas
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Segundo pesquisa da ESPM
Media Lab, entre 2015
e 2016, os vídeos voltados
ao público infantil no
YouTube saltaram de 20 para
50 bilhões de visualizações
“Os influenciadores
mirins se tornam uma
máquina de produzir
desejos para as
crianças, que não têm
as habilidades cognitivas
de controle de emoções”,
critica a psicopedagoga
Paloma Garcia
Além da publicidade
abusiva, o fenômeno dos
mini-influenciadores tem
consequências negativas
para os próprios
criadores de conteúdo
“A criança entra num
personagem, a fim de
atender a expectativa
da família e os likes
dos amigos. Isso pode
prejudicar o desenvolvimento
da identidade”, explica
a psicóloga Ana
Flávia Fernandes
Para ela, expectativas
sobre a performance provocam
ansiedade, angústia e outros
transtornos nas crianças.
No entanto, existem alguns
pontos fora da curva, como
o goiano Ernani Coelho Neto
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Após quebrar o braço e
passar por quatro cirurgias,
o estudante mergulhou
num quadro depressivo.
A irmã, Giulia, se propôs
a fotografá-lo para aumentar
a autoestima, e postou
o resultado no Instagram
“Ele dormiu com dez
seguidores e acordou
com 10 mil”, conta a mãe,
Luciana Moreira. Ernani,
que sofria bullying na
escola, ficou mais confiante
e foi até liberado dos antidepressivos.
“Vejo uma exploração
muito forte por parte
de alguns pais. Aqui
fazemos tudo no ritmo dele”,
afirma Luciana, que bloqueia
mais de dez usuários por
dia no perfil do filho
por suspeita de pedofilia
Para a psicanalista
Isabel Santana Gervitz,
ainda que a vontade de
estar na internet tenha
partido da criança, os
adultos precisam filtrar
exposições que possam
ferir sua privacidade
“A criança está
compartilhando seus
conhecimentos e descobertas
sobre o mundo ou algo
íntimo? Está sendo
retratada como criança
ou assumindo uma postura
adulta?, questiona
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Crianças menores, que
sequer sabem ler, também
são alvo de exposição.
O termo sharenting foi
criado para nomear o ato
de postar desenfreadamente
fotos e vídeos dos filhos
nas redes sociais
“Quem disse que os
pequenos, quando forem
mais velhos, vão querer
ter sua imagem divulgada
nas redes? Como fica
a possibilidade de cada
um de contar sua própria
história?”, questiona Isabel
A internet, os gadgets,
os recursos digitais e
as redes sociais despertam
a curiosidade de adultos
e crianças. Cabe aos
mais velhos mediar
essas experiências

é outra
conversa.