POR: micheline alves
foto: ian nassari

Artista não-binário nascido
e criado em Natal, Pedro
Fasanaro é um dos trunfos
de “Deserto Particular”,
filme que representa o Brasil
na corrida pelo Oscar

ARTE PARa
QUEBRAR TABUS

Representar, no dicionário,
significa encenar – mas também
“ser o símbolo” de algo.
Pedro Fasanaro representa,
nos dois sentidos: é intérprete
talentoso e é também imagem
síntese de uma geração
que luta para existir

foto: ian nassari

Nascido em Natal, no Rio
Grande do Norte, em 1996, ele
é um dos protagonistas de
“Deserto Particular”, longa
brasileiro que busca uma vaga
na lista de melhores filmes
internacionais no Oscar 2022

imagens: pandora filmes / reprodução

Mesmo que não chegue ao
red carpet, o artista sabe
que foi longe. “Ser uma
pessoa LGBTQIA+ do Nordeste
e ter essa visibilidade é um
prêmio. Penetrar esses
espaços, levar um corpo
não-binário a tantas telas,
dá muita força”

foto: arquivo pessoal

No filme dirigido por Aly
Muritiba, Pedro vive Robson
/Sara, personagem que guarda
semelhanças com seu intérprete:
“'Deserto' fala bastante sobre
mim e a descoberta da minha
não-binariedade. São muitos
paralelos com a minha vida”

imagens: pandora filmes / reprodução

“As cenas com Tomás
Aquino, o melhor amigo
de Robson, são de uma
cumplicidade tremenda.
Pessoas LGBTQIA+ tendem a
ser distanciadas da família
e acabam construindo suas
famílias com amigos”

imagens: pandora filmes / reprodução

Como o personagem,
Pedro mora com a avó
desde os três anos – sua
mãe faleceu quando ele
era bebê. “Meu processo de
descoberta, que começou
cedo, foi muito impactante
e dolorido, tanto pra mim
quanto pra minha avó”

imagens: pandora filmes / reprodução

“Eu fui uma criança viada,
né? A gente usa esse termo
de maneira carinhosa, mas
ser um garoto feminino,
com uma delicadeza que
os outros meninos não
tinham, gerava uma reação
negativa nas pessoas”

foto: arquivo pessoal

“De repente eu estava
caminhando por tudo o
que era errado na cabeça
das pessoas: usando
maquiagem, roupa feminina,
deixando o cabelo crescer.
Pra minha avó, era anormal.
Mas hoje a gente vive na
paz e no respeito”

foto: arquivo pessoal

Pedro descobriu o teatro
aos 11 anos, no colégio,
e no fim do Ensino Médio já
fazia cursos de Artes Cênicas
na Universidade Federal do
Rio Grande do Norte. “Me
achei completamente“, diz

foto: arquivo pessoal

“Meu grupo pesquisava vida
e obra de Pedro Almodóvar
e Frida Kahlo. Comecei a
experimentar muita coisa
em cena e a buscar
sobre teoria queer"

imagens: arquivo pessoal

No período da faculdade,
houve uma fase em que se
imaginava como mulher trans.
Até que entendeu que, assim
como a masculinidade não
o representava por completo,
a feminilidade também não

foto: arquivo pessoal

“Depois que eu me descubro
não-binário, descubro
que posso ser qualquer
pessoa. Dentro do meu
corpo cabe uma infinidade
de possibilidades. E não
tem nada mais gostoso
do que isso”

foto: arquivo pessoal

Sobre a maneira que prefere
ser chamado, afirma: “Em
certos espaços, a discussão
do pronome neutro ainda
não é acessível. Hoje não
me importo com o gênero
e o pronome que vão
escolher. Pode me chamar
de O Pedro ou A Pedro”

foto: arquivo pessoal

Foi em 2018 que Pedro viveu
a primeira grande chance da
carreira. Descoberto em Natal
por uma produtora de elenco,
foi escalado para a série “Onde
nascem os fortes”, da TV Globo

imagens: tv globo / reprodução

O trabalho o levou ao Rio de
Janeiro, onde planejou passar
um mês. Acabou ficando mais de um
ano e fazendo outros trabalhos,
entre eles o seriado “Malhação
– Toda forma de amar”, vivendo
o transformista Paco Moreno

imagens: tv globo / reprodução

O artista também investe
na carreira de cantor.
“A arte é uma coisa só.
Desde criança tenho paixão
por música e por cantar.
Tudo o que é forma de
expressão me atrai”, diz

foto: arquivo pessoal

Fazer arte hoje é sua
forma de ativismo: “Um
filme como ‘Deserto
Particular’ é um caminho
pra chegar às pessoas
que estão passando pelo
que eu passei. E também
às pessoas que não
conseguem entender.
A arte quebra tabus”

foto: ian nassari

é outra
conversa.