Reportagem: Décio Galina
Fotos: Rodrigo Marques
/ Revista GOL

Depois de um acidente que
lhe tirou a perna esquerda,
Paola Antonini encoraja os
usuários de prótese a mostrar
seu corpo e romper com
qualquer tipo de limitação

Coitadinha, eu?

Na madrugada do dia 27 de
dezembro de 2014, Paola Antonini
colocava as malas no carro para
viajar de Belo Horizonte a
Búzios quando foi atingida
por um carro conduzido por
uma motorista alcoolizada
Foram 50 minutos prensada
entre os dois veículos esperando
por uma ambulância e 14 horas
na mesa de cirurgia. Na manhã
seguinte, sua mãe a contou
que sua perna esquerda
tinha sido amputada
“Eu disse: ‘Tá bom. Ainda bem
que estou viva’. Movida por
uma força inexplicável, não
fiquei triste, não chorei.
Pensaram que ia passar um
tempo e só aí cairia a ficha,
mas não aconteceu”, lembra
A partir daí, Paola decidiu
usar as redes sociais para
inspirar amputados e
deficientes físicos a
não camuflar o corpo
e a prótese “Adoro minha
perninha cinza”, diz
A maneira como ela encarou
essa mudança logo a transformou
em uma influenciadora digital
– hoje são 2,7 milhões de
seguidores no Instagram,
além de contratos com
grandes marcas 
“Quero ajudar cada vez
mais pessoas. Vou trabalhar
muito, juntar dinheiro
e pegar uma parte dele
para doar próteses para
quem precisa”, diz 
No final de 2020, a influenciadora
criou o Instituto Paola Antonini,
que tem como principal objetivo
doar próteses, órteses e outros
equipamentos para a reabilitação
de pessoas com deficiência física
“As próteses distribuídas
pelo governo são ruins,
machucam. Em vez de
devolver a qualidade de
vida ao amputado, elas
desencorajam as pessoas
a usá-las”, explica 
As peças distribuídas pelo
Sistema Único de Saúde (SUS)
ainda podem demorar mais de
seis meses para chegar, o que
faz com que o índice de
abandono seja de 80%
“Eu vejo como a minha rotina
é normal e consigo tudo
sozinha. Quero que outras
pessoas tenham essa chance
também”, afirma a modelo
e influenciadora mineira
Paola dedica a maior parte do
seu tempo a responder mensagens
nas redes sociais e visitar
pacientes recém-amputados
para incentivá-los a encarar
o momento como o recomeço
da vida, e não o fim
“Se tem algo difícil de ouvir
é: ‘Ah, tadinha dela...’. Ninguém
precisa ter dó de mim. Estou
ótima. Tadinha, não”

é outra
conversa.