por: Alexandre Makhlouf fotos: Jorge Lepesteur / Revista GOL
Hushahu Yawanawá quebrou paradigmas ao se tornar a primeira líder espiritual de seu povo e hoje ajuda mulheres de diferentes etnias a encontrarem sua força
Pajé também é ocupação de mulher
Natural da aldeia de Mutum, no interior do Acre, Hushahu Yawanawá casou-se ainda criança e foi mãe pela primeira vez aos 10 anos – a segunda filha chegou aos 12
“Isso fazia parte da minha cultura, então demorei a perceber o que estava acontecendo. Por que eu era mãe de uma criança sendo que eu ainda era criança?”, diz
Em busca de respostas, Hushahu recorreu ao uní, nome indígena para a ayahuasca. Não foi um processo fácil, já que os Yawanawá diziam que, ao consumir a bebida, as mulheres podiam morrer ou enlouquecer
“Percebi que isso era só um discurso dos homens para evitar que fizéssemos parte do ritual”, conta ela, que após muito questionar participou oficialmente de um ritual de uní aos 14 anos
foto: Lara Dias / Farm / Divulgação
“Poder tomar a bebida na frente do meu povo e não precisar me esconder foi a realização de um sonho”, lembra. Naquele momento, ela soube que queria seguir o caminho da espiritualidade
foto: Lara Dias / Farm / Divulgação
Hushahu viveu praticamente reclusa até os 18 – pois era isso que se esperava de alguém que quer se tornar pajé –, até se embrenhar floresta adentro para começar o ritual de transformação
foto: Lara Dias / Farm / Divulgação
Orientada por Tatá, pajé de sua aldeia, ela e sua irmã passaram 1 ano e 3 meses isoladas no meio da mata, seguindo regras sagradas e consumindo diariamente diferentes tipos de medicina indígena
“Cheguei a acreditar que não conseguiria, mas toda vez que me perguntava por que tinha aberto mão de tudo para viver aquilo, os espíritos me respondiam ‘porque você é uma mulher’”
No início dos anos 2000, ela retornou para o convívio na aldeia como primeira pajé de seu povo e inaugurou uma nova era para os Yawanawá – especialmente para as mulheres
foto: Lara Dias / Farm / Divulgação
Com a ajuda da irmã, Mariazinha, que tornou-se a primeira cacique, ela passou a incentivar todas as mulheres a participar dos rituais de uní e trabalhar com o artesanato
foto: Lara Dias / Farm / Divulgação
“Hushahu provou que as mulheres podem dominar os conhecimentos da cura e rompeu um bloqueio cultural muito grande. Depois dela, várias outras passaram estudar”, diz a professora indigenista Dedé Maia
Além de fortalecer o papel das mulheres, a pajé tem sido figura indispensável para olhar a questão indígena de uma maneira atual
Hoje, por exemplo, os Yawanawá são um dos grupos que mais praticam o chamado turismo espiritual, em que povos originários recebem pessoas de fora para vivenciar rituais de cura
“Trata-se de um povo empreendedor, que faz parcerias com o homem branco e valoriza os ativos de uso tradicional. Mais do que tudo, é uma questão de sobrevivência”, reforça André Villas-Bôas, secretário executivo do ISA
foto: Lara Dias / Farm / Divulgação
“A gente não está mais escondido, tem satélites passando por cima da nossa terra. Temos que usar a tecnologia e as conexões para proteger a floresta. Quanto mais parcerias, melhor”, completa Hushahu