Uma década após ser descoberta numa festa à fantasia em que foi vestida de múmia porque não tinha peruca, a cantora acumula dezenas de hits, parcerias com artistas como Anitta e, é claro, quase uma centena de perucas
Pabllo Vittar
A noite do aniversário de 18 anos de Pabllo Vittar poderia ter sido escrita por uma sala diversa de roteiristas em 2021. Um gay afeminado que vai para uma boate em Uberlândia e experimenta se montar como drag queen pela primeira vez
Improvisa uma fantasia de múmia, já que seu aniversário cai um dia depois do Halloween, e a festa tem como tema o Dia das Bruxas. Faz uma saia e um top com bandagens. Sobe em um salto. Como não tem peruca, usa o que restou das ataduras ao redor da cabeça
No mesmo dia, havia sido recusada em duas entrevistas de emprego. A drag múmia é a primeira foto que posta no seu Instagram. É também a noite que chama atenção do dono da boate. Ele e seus sócios veem um potencial tremendo na aniversariante que, descobrem, também canta
Poucos meses depois, Pabllo já gravou uma versão brasileira que injeta pagode num hit internacional. “Lean On” vira “Open Bar”. O DJ americano Diplo, dono da música original, escuta a versão de Pabllo e pira
Pabllo e seus produtores, que a essa altura ela já chama de pais, têm horas para gravar um videoclipe, com um orçamento de R$ 500 e um saco de suco solúvel em pó. No ano seguinte, fazem 200 shows lotados, com um repertório que também teve de vir à luz em ritmo de redes sociais
Mas a equipe de roteiro que fosse escrever a primeira noite da personagem Pabllo Vittar também precisaria ser contemporânea o suficiente para não cair nos clichês de histórias de princesas para quem a vida acontece a partir do momento em que um homem pisa em sua vida
Quando alguém pergunta para Pabllo Vittar em 2021 a que se deve seu sucesso, rápido como uma estrela cadente e longevo como o Sol, ela responde: “À minha persistência dos anos anteriores, eu sempre acreditei em mim, eu sempre trabalhei nisso”
Porque a drag iniciante já era, aos 18 anos, uma artista tarimbada, que se apresentava em igrejas de Caxias, cidade onde cresceu no Maranhão, e cantava acompanhada de um violão em bares do Triângulo Mineiro, para onde sua mãe se mudou
Uma década depois, Pabllo não tem uma, mas quase cem perucas. A maioria delas lace fronts feitas de cabelo humano por um brasileiro radicado em Londres. Carrega também contratos com marcas enormes, parcerias com Anitta e Thalía, dezenas de hits e quatro álbuns na bota
“Eu não trabalho com essa ênfase em vai hitar, não vai hitar. Eu faço o que eu quero, o que eu gosto. Eu vou ter 80 anos, olhar pra trás e, porra, eu fui uma artista que me doei, fui feliz e aproveitei cada momento disso. Não vim pra este mundo pra explicar nada“
“Eu nunca quis ser famosa para ser uma pessoa que esbanja dinheiro, nunca quis ser como as celebridades. A fama e ser celebridade são coisas diferentes, porque celebridade é para as pessoas que vivem da aparência. Eu não preciso viver da aparência, já faço isso na minha drag“
“Eu gosto de privacidade e desde sempre eu coloquei isso muito implícito para não me tornar os exemplos que eu tive quando eu era criança, uma Britney Spears da vida, uma Amy Winehouse, esses artistas que sucumbiram por conta da fama“
“Mas eu não tenho medo de me posicionar. Vai perder a amizade por causa de política? Vou. Eu solto a mão mesmo, não tem esse negócio, 'vamos segurar as mãos', não. Eu não tenho medo de perder trabalho, porque trabalho não vai me faltar nunca“
“Acho que a gente tem que persistir cada vez mais. Tem uma pedra, chuta ela. Se tiver outra, pega e taca na cabeça de quem te jogou. É isso“