O trabalho
te define?

Conversamos com mulheres
como Camila Pitanga,
Gabriela Manssur e Giovanna
Xavier para entender por que
as decisões sobre nossas
carreiras ainda geram tanta
culpa, cobranças e dilemas

Por: Nathalia Zaccaro
Imagens: Pablo Saborido/ Trip
A figura da mulher que
investe na vida profissional,
se realiza e ganha o próprio
dinheiro se enraizou no
imaginário feminino como
uma referência de liberdade
Trabalhar me dá
força. Fui criada assim.
Vi minha mãe trabalhando
muito. Sentia a falta
dela, mas tinha muito
orgulho também”,
conta a promotora Gabriela Manssur
Desde a infância, centramos
nossa subjetividade na ideia
de assumir a posição de
alguém que produz riqueza
e conhecimento, uma pessoa produtiva. O sucesso
profissional é o auge
dessa experiência
Mas é importante reconhecer
que aprofundar essa
experiência de libertação
não significa necessariamente
trabalhar mais intensamente
Eu me dedicava full
time sem me importar
com nada. De uns anos
pra cá, vim mudando esse
equilíbrio. Quero manter
o tesão no trabalho, mas
isso não pode atropelar
tudo”, conta a atriz
Camila Pitanga
A publicitária Juliana Wallauer
também precisou rever a relação
com a profissão, mesmo com a
família tendo investido tudo
na sua educação, o que gerou
uma grande expectativa
Está tudo certo com a
ideia de trabalhar só
para pagar as contas,
não vejo problema nisso,
mas, para mim, o tempo
longe de casa estava
incomodando demais”,
conta Juliana
DEPOIS DE SAIR DO
UNIVERSO DAS AGÊNCIAS,
A PUBLICITÁRIA ASSUMIU
O COMANDO DO PODCAST
MAMILOS


o eixo da minha vida
mudou. Eu me realizo
trabalhando, mas não
tem nada a ver com
carreira. O projeto
mais importante da
minha vida são meus
filhos”, diz
Mas vale lembrar que ter
a possibilidade de redesenhar
as condições de trabalho
é privilégio. De cor,
de classe, de gênero
Via de regra, a brasileira
é massacrada pelo sistema
organizacional laboral.
Ou pela falta de acesso
a ele. Para a pesquisadora
e professora Giovanna Xavier,
a sensação é de não
poder errar
Depois de gerações
de mulheres negras,
cheguei em um lugar
inimaginável, mas, para
ser reconhecida, tenho
que trabalhar muito
mais que a média”, diz
Mulher trans, Daniela
Andrade estudou tecnologia da
informação, área que prometia
dinheiro e oportunidades,
mas, após deixar um trabalho
e entender sua sexualidade,
não encontrou mais emprego
Só agora, depois de
20 anos de carreira,
é que consegui ser
CLT de novo”, conta
Reconhecer o valor da própria
profissão, se descolando das
chancelas que determinam o que
deve ou não ser prestigiado,
é fundamental para experimentar
uma relação justa e livre com a
capacidade criativa individual
Afinal, trabalhar é
processo de cura, de evolução.
O desafio é se colocar como
quiser e como puder. E brigar
para ser reconhecida (e bem
paga) por isso

é outra
conversa.

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