Política pública prevista na lei leva acolhimento, proteção e amor a crianças e adolescentes separados temporariamente de suas famílias
FAMÍLIAS ACOLHEDORAS
Foto: Marco Yoshikawa
Cerca de 30 mil crianças e adolescentes brasileiros estão distantes de sua família biológica, em situação de acolhimento
95% deles vivem em abrigos mantidos pelo Estado. Mas uma política pública ainda pouco conhecida oferece a esses jovens um outro tipo de acolhimento
Foto: Marco Yoshikawa
Famílias acolhedoras, como são chamadas, se disponibilizam a receber uma criança em casa e a cuidar dela sem saber por quanto tempo, durante um período que pode durar até um ano e meio
Há quatro anos, a publicitária Shirley Haint vive essa experiência. Divorciada e mãe de três filhos, ela já acolheu quatro crianças de idades diferentes
“Na primeira noite ela dormiu no meu colo e eu pensei: quem é ela, do que ela precisa? É muito louco como você ama alguém que nunca viu”, conta sobre a bebê que recebeu com apenas um mês de vida
A psicóloga Lara Naddeo, coordenadora da área de pesquisa do Instituto Fazendo História (IFH), explica que crianças acolhidas dentro de um ambiente familiar tendem a se desenvolver melhor que aquelas acolhidas em instituições
“Por mais que nos abrigos elas estejam bem cuidadas, as mudanças de horários e de referências de profissionais têm impactos negativos na sua formação”, diz
Lara conta que há todo um acompanhamento psicológico destinado às famílias acolhedoras e às crianças, que serão reintegradas a suas famílias biológicas ou adotadas
Há também uma rede de apoio que, ao longo do período de acolhimento, acompanha as famílias biológicas e analisa se elas têm condições de voltar a receber essas crianças
“Não é apenas uma família ajudando uma criança: é uma família apoiando outra família em um momento de necessidade”, diz Sara Luvisotto, assistente social e coordenadora do ‘Famílias Acolhedoras’ do IFH
Sara lembra que, por trás de toda criança acolhida, há sempre uma família desprotegida: “São famílias sem acesso à saúde, renda, moradia, que nem aparecem nas estatísticas, que simplesmente não existem”
Camila Barros, auxiliar de cartório, conhece bem essa vulnerabilidade: morou em abrigo, sofreu abusos, teve de se virar sozinha, mas rompeu o ciclo e assumiu a guarda do sobrinho de 5 anos, que estava em acolhimento
“Foi muito difícil tomar essa decisão, mas eu não queria que a história se repetisse com ele. Agora somos uma família“, diz
Já a confeiteira Anna Beatriz Vieira conheceu o programa de outra perspectiva. Ela é mãe adotiva do Victor, de 2 anos, que passou pelo acolhimento familiar antes de conhecê-la. “O acolhimento não é só da criança, é nosso. Isso dá segurança”, diz
Não existe “padrão de família” para quem deseja acolher uma criança: pessoas solteiras, casadas, divorciadas, viúvas, casais homoafetivos, mães e pais solos. Basta muita disponibilidade emocional e afetiva