A falta de acesso básico a itens
de higiene menstrual prejudica
pessoas que menstruam em situação
de vulnerabilidade social 

por camila rosa
ilustração: mariane ayrosa

o que é

pobreza
menstrual?

Se ao menstruar pela
primeira vez você teve
fácil acesso a um absorvente
ou a informações sobre
a menstruação, se considere
uma pessoa de sorte.
A realidade é diferente
para muitas brasileiras
Uma pesquisa desenvolvida
pela Sempre Livre em 2018
mostrou que 22% das meninas
de 12 a 14 anos não têm
acesso a produtos menstruais
no Brasil. O número sobe
para 26% entre 15 e 17 anos
Ter acesso a boas condições
de higiene menstrual não
se limita ao absorvente:
saneamento básico e banheiro
adequado também fazem
parte dessa conta
As consequências desse
problema são graves. A ONU
estima que, no mundo, uma
em cada dez meninas falte na
escola durante a menstruação
por falta de recursos para
comprar absorventes
No Brasil o número aumenta
para uma em cada quatro
meninas, segundo uma
pesquisa da Always. É claro
que isso afeta diretamente
o rendimento escolar
das garotas, resultando
na evasão escolar
50% das entrevistadas
admitiram usar outros
meios para conter o sangue
menstrual, como papel
higiênico, tecidos de
roupas velhas, jornais,
papelão e, em alguns
casos, até miolo de pão
Tais alternativas são
um risco à saúde das
pessoas que menstruam
e podem causar graves
infecções no trato urinário
ou no sistema reprodutor
Essa também é a realidade
de mulheres presas.
A Defensoria Pública de
SP divulgou, em 2021, que
60,9% delas não acreditam
que o fornecimento de
absorventes seja suficiente
para o fluxo menstrual
De acordo com o livro
“Presos que Menstruam”,
de Nana Queiroz, os kits
distribuídos contam com
poucas unidades de papel
higiênico e, em média, um
pacote de absorvente por mês
Considerando os fluxos altos,
essa quantia não é suficiente
para o período menstrual.
Por isso, em muitas prisões
brasileiras o absorvente se
tornou uma moeda de troca
Projetos como o Nós Mulheres,
criado em 2018 pela advogada
criminalista Juliana Garcia,
lutam para ajudar as mulheres
presas a menstruaram com
mais dignidade
Em 2019, a iniciativa
arrecadou cerca de 60 mil
absorventes, doados para
seis presídios femininos
do Estado de São Paulo
Outro projeto que coloca
a pobreza menstrual em
debate é o Fluxo sem Tabu,
idealizado pela estudante
do ensino médio Luana
Escamilla, de 17 anos
A iniciativa conta com
instituições parceiras,
como a Casa Hope, o Instituto
C e o ABCD Nossa Casa,
para ajudar mulheres
e meninas em situação
de vulnerabilidade social
Apesar da pauta ainda ser
pouco discutida, já há um
movimento para transformá-la
em política pública, tanto
por parte dos governos
municipais e estaduais quanto
pelo Congresso Nacional
Em agosto de 2021, a Câmara
aprovou a distribuição
gratuita de absorventes para
alunas de escolas públicas,
mulheres presidiárias e em
situação de vulnerabilidade.
O projeto segue tramitando
O governo de São Paulo já
havia anunciado, em junho,
a distribuição de itens de
higiene para 1,3 milhão de
meninas entre 10 e 18 anos,
além de promover a capacitação
de profissionais para atender
às questões sobre menstruação
Menstruar é um processo
biológico inerente a corpos
com útero. Tornar acessível
produtos e meios para ter
dignidade menstrual no Brasil
é pensar em políticas públicas
acessíveis para todos
Conheça e ajude os projetos
Nós Mulheres Fluxo sem Tabu

é outra
conversa.