Além de ser associado à
exaustão no trabalho, o burnout
atinge também pais e mães,
um problema que só cresceu
durante a pandemia
por carol ito
ilustração: mariane ayrosa
o que é
burnout
parental?
Estresse acumulado,
explosões agressivas,
culpa. Esse é um ciclo
que se repete muitas vezes
quando uma pessoa sofre
de burnout parental
Isabel Tatit, psicanalista
e doutora em psicologia
clínica pela USP, observou
uma frequência maior do
fenômeno em sua clínica
ao longo da pandemia
“Cuidar do trabalho,
dos filhos e da casa
parece uma conta que não
fecha, o que gera um
looping de sofrimento”,
explica ela
“A pessoa entra numa
lógica do ‘impossível’:
trabalhar como se não
tivesse filho OU casa
para cuidar e criar
os filhos como se não
tivesse que trabalhar”
A síndrome de burnout
é classificada como um
“fenômeno ocupacional”
pela OMS, enquanto o
burnout parental ainda
não foi categorizado
pela organização
“O burnout é como um primo
da depressão, a vida
fica pesada. A depressão
freia o tempo, paralisa.
O burnout ainda é
aquele momento de tentar
dar conta de tudo”
Ao invés de ser associada
à economia de mercado,
a síndrome do burnout
parental está mais ligada
à economia do cuidado,
que é desvalorizada,
segundo Isabel
Ela pontua que o
fenômeno é mais frequente
entre mães, já que a
responsabilidade do cuidado
ainda recai principalmente
sobre as mulheres
“Falar em burnout
parental é um avanço,
porque mostra que mesmo
quando existem duas pessoas
realizando o cuidado
ainda é complicado
fechar A conta”
Segundo a psicanalista,
existem duas dimensões
que se conectam e que
favorecem um quadro de
burnout parental: a
social e a subjetiva
“Na dimensão social,
existe a exigência de
produtividade no trabalho
e a falta de um Estado
que ofereça condições
para que a pessoa possa
trabalhar o tanto
que se exige”
“Na dimensão subjetiva,
é lidar com a lógica do
impossível, muitas vezes,
sem querer delegar tarefas,
como se os avós ou a escola
não soubessem cuidar”
A preocupação excessiva
e a auto-cobrança também
aumentam os níveis de
estresse, principalmente na
pandemia, com a restrição
de atividades impostas
pelo coronavírus
“Deixar o filho ficar
muito em frente às telas,
por exemplo, pode ser
um problema, mas a gente
faz escolhas e às vezes
foi a escolha possível
naquele momento”
Reconhecer os próprios
limites, encontrar um
ajuste possível na divisão
de tarefas e pedir ajuda
são caminhos que podem
tornar a rotina mais leve