Espírito livre

Por: Milly Lacombe
Fotos: Pablo Saborido / Trip
Ialorixá do terreiro Ilê Axé
Oyá, Nivia Luz é o que talvez
possamos entender como a
liderança espiritual do futuro:
feminina, delicada, inclusiva
e livre de preconceitos
Foto: Reprodução
Na infância, Nivia Luz queria
ser astronauta. Depois,
engenheira. Na casa da família,
na periferia de Salvador, ela
contava os planos para a avó
materna, Mãe Santinha de Oyá
Foto: Arquivo pessoal
“Nasci em um terreiro,
minha avó era mãe de santo,
então minha vida toda vivi
o candomblé. Mas, ao mesmo
tempo, tive a oportunidade
de ser o que eu quis ser,
de conhecer o mundo”
Foto: Arquivo pessoal
Na hora do vestibular,
Nivia escolheu turismo, por
entender que havia uma lacuna
em Salvador. Morou um tempo
fora do Brasil, conheceu
as Américas, a Ásia. “Viajar
me faz sentir viva”, conta
Tinha planos de ficar
nos EUA, mas os orixás
a trouxeram de volta.
Foto: Pablo Saborido / Trip
“Uma noite, escutei
a voz da minha avó
Santinha me chamando.
No dia seguinte,em
meio a uma reviravolta,
estava de malas prontas”
Foto: Arquivo pessoal
Mãe Santinha morreu em
maio de 2015, aos 90 anos,
e Nivia foi a escolhida no
jogo de búzios para assumir
a liderança do Ilê Axé Oyá,
terreiro de candomblé que
a avó fundou na década de 80
Foto: Pablo Saborido / Trip
“O coração borbulhou,
porque é muita
responsabilidade.
Você passa a cuidar de
pessoas, e tem que aprender
a ouvir. Tem quem diga
‘você é muito nova para
ser ialorixá’, mas para
o orixá a idade não conta”
Cápsula do Tempo / Trip Transformadores/2018
A ialorixá Nivia é o que
talvez possamos entender
como a liderança espiritual
do futuro: feminina,
delicada, inclusiva,
livre de preconceitos
Cápsula do Tempo / Trip Transformadores/2018
“Na leitura do candomblé,
somos sagrados porque somos
parte da natureza. Quando
você compreende isso, não
há mais como ser homofóbico,
racista, machista; não
há mais como violar ou
maltratar o outro”
Foto: Pablo Saborido / Trip
Ao mesmo tempo em que
foi escolhida, porém,
Nivia segue sendo as coisas
que escolheu – em paralelo
à preparação para se tornar
ialorixá, concluiu o
mestrado em cultura
e sociedade na UFBA
Foto: Alexandre Bigliazzi / Trip
“Eu também sou Nivia,
uma mulher negra,
uma intelectual, uma
profissional. Temos que
entender a importância
do tempo nas nossas vidas.
Tudo vai ser resolvido
no momento certo”, diz
No candomblé, o tempo é
um orixá, e, dentro de um
terreiro, onipresente e
onisciente. Mas aqui do lado
de fora, Nivia explica, nos
relacionamos mal com ele
Foto: Pablo Saborido / Trip
Foto: Pablo Saborido / Trip
E poderíamos de fato
sacar muitas coisas se
o percebêssemos como algo
divino, e, portanto, sem
linearidade e com função
de nos elevar a lugares
de mais significado
Foto: Pablo Saborido / Trip
As religiões de matriz
africana, porém, não são
levadas a sério pelo
conservadorismo que nos
rege, sendo marginalizadas
a ponto de crimes contra
terreiros terem crescido
nos últimos anos
Foto: Reprodução Instagram
A ideia de comunidade é
forte na família de Nivia.
Depois do terreiro, surgiram
outros projetos importantes
para a região: o Cortejo Afro,
fundado por seu tio, Alberto
Pitta, e o Instituto Oyá
Cápsula do Tempo / Trip Transformadores/2018
Criado por Santinha
em 1998 para promover a
inclusão social de crianças
e adolescentes a partir de
ferramentas como música,
dança e capoeira, o instituto
é presidido por Nivea
Foto: Simon Plestenjak / Casa TPM 2018
A baiana acredita que
precisamos prestar atenção
em coisas cotidianas,
que tendemos a ignorar.
“A tecnologia está nos
roubando o que há de mais
importante: a capacidade
de sentirmos a nós mesmos”
“Não conseguimos viver sem
um celular, estamos nos
desconectando da natureza
– e, com isso, perdemos
a intuição”, diz Nivia
Foto: Simon Plestenjak / Casa TPM 2018
“Lá no terreiro, a cura
para essas doenças da
alma vem  de escutar o
barulho da água caindo,
de sentir o vento, de
andar descalço, de pisar
na terra. Estamos todos
precisando dessa conexão”
Cápsula do Tempo / Trip Transformadores/2018

é outra
conversa.

Cápsula do Tempo / Trip Transformadores/2018