Beber é um ato político. Há uma onda de preocupação com o que comemos, mas ‘da terra ao prato’ só faz sentido se houver ‘da terra ao copo’ também”, diz Néli Pereira
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A identidade brasileira sempre foi um norte do trabalho da jornalista, que atuou como repórter e apresentadora da BBC e da rádio BandNews FM antes de se dedicar exclusivamente ao universo da coquetelaria
2012
Ao lado do marido, o artista plástico Renato Larini, Néli abriu as portas do Espaço Zebra, que nasceu para ser um misto de bar, galeria, casa e atelier
Eu vi que as pessoas queriam beber coquetéis e fui pesquisar o que tinha de Brasil na coquetelaria. Existia uma ou outra iniciativa, mas não havia um caminho a seguir”
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Ela partiu atrás dos botânicos que estudam conhecimentos tradicionais, aprendeu fitoterapia indígena numa aldeia, conheceu o trabalho das raizeiras e mergulhou na medicina folclórica brasileira
Me interessa a forma de fazer que eu aprendo com guardiões da nossa cultura, que são índios, caboclos, benzedeiras, e que ficaram confinados a um universo popularesco. Isso não veio para a coquetelaria”
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Os ingredientes que descobria, Néli levava para o bar.
Eu não podia servir um drink de carqueja que ninguém nunca tinha ouvido falar, então fazia um carqueja spritz, um negroni com vermute de catuaba”
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Eu usava daquilo que as pessoas curtiam para introduzir uma coisa brasileira. Fui fazendo assim até se acostumarem e me procurarem por isso”, conta Néli, que hoje também usa esse conhecimento em consultorias
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Na pandemia, o fechamento do bar fez com que ela resgatasse seu lado comunicadora em lives no Instagram
Foi sensacional encontrar interesse das pessoas e saber que tudo aquilo que eu pesquisei sobre o Brasil é uma história que faz sentido ser contada”
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Foto: João Sal/ divulgação
Mais que ensinar a fazer drinques em casa – “isso tem no Google”, ela diz –, Néli quer mostrar como o universo da coquetelaria é parte de um território e de uma cultura
Não ia funcionar se eu chegasse numa live ‘hoje vamos falar sobre o cipó milome’. Outra coisa é falar sobre o assunto num contexto de descolonização do paladar, para entender suas raízes”
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Os ingredientes e a coquetelaria são ferramentas para nos aproximar, reapropriar, recontar essa história que pode ser mais nossa”
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O trabalho de Néli não tem fim. Com sua pesquisa, que vai se transformar em livro em 2021, ela quer dar ferramentas a novos desbravadores da cultura brasileira
As pessoas estão sedentas por aquilo que elas ainda não conhecem sobre o nosso país”, diz. “Eu quero formar uma legião de soldados, porque ainda tem muita coisa a ser feita”