Néli Pereira

Dona do Espaço Zebra,
a bartender, jornalista
e pesquisadora mergulha
nos ingredientes brasileiros
para levar a nossa cultura
à coquetelaria

Por: Fernanda Nascimento
Imagens: Renato Larini/ divulgação
Beber é um ato político.
Há uma onda de preocupação
com o que comemos, mas
‘da terra ao prato’ só
faz sentido se houver
‘da terra ao copo’
também, diz Néli Pereira
A identidade brasileira
sempre foi um norte do
trabalho da jornalista,
que atuou como repórter
e apresentadora da BBC e da
rádio BandNews FM antes de
se dedicar exclusivamente
ao universo da coquetelaria
2012
Ao lado do marido, o artista
plástico Renato Larini,
Néli abriu as portas do
Espaço Zebra, que nasceu
para ser um misto de bar,
galeria, casa e atelier
Eu vi que as pessoas
queriam beber coquetéis
e fui pesquisar o que
tinha de Brasil na coquetelaria. Existia
uma ou outra iniciativa,
mas não havia um
caminho a seguir”
Ela partiu atrás dos
botânicos que estudam
conhecimentos tradicionais,
aprendeu fitoterapia indígena
numa aldeia, conheceu o
trabalho das raizeiras
e mergulhou na medicina
folclórica brasileira
Me interessa a forma
de fazer que eu aprendo
com guardiões da nossa
cultura, que são índios,
caboclos, benzedeiras,
e que ficaram confinados
a um universo popularesco.
Isso não veio para
a coquetelaria”
Os ingredientes
que descobria, Néli
levava para o bar.

Eu não podia servir
um drink de carqueja
que ninguém nunca tinha
ouvido falar, então
fazia um carqueja spritz,
um negroni com vermute
de catuaba”
Eu usava daquilo que
as pessoas curtiam para
introduzir uma coisa
brasileira. Fui fazendo
assim até se acostumarem
e me procurarem por
isso, conta Néli,
que hoje também usa
esse conhecimento
em consultorias
Na pandemia, o fechamento
do bar fez com que ela
resgatasse seu lado
comunicadora em lives
no Instagram
Foi sensacional encontrar
interesse das pessoas
e saber que tudo aquilo
que eu pesquisei sobre o
Brasil é uma história que
faz sentido ser contada”
Foto: João Sal/ divulgação
Mais que ensinar a fazer
drinques em casa – “isso tem
no Google”, ela diz –, Néli
quer mostrar como o universo
da coquetelaria é parte de um
território e de uma cultura
Não ia funcionar se
eu chegasse numa live
‘hoje vamos falar sobre
o cipó milome’. Outra
coisa é falar sobre o
assunto num contexto de
descolonização do paladar,
para entender suas raízes”
Os ingredientes e
a coquetelaria são
ferramentas para nos
aproximar, reapropriar,
recontar essa história
que pode ser mais nossa”
O trabalho de Néli não
tem fim. Com sua pesquisa,
que vai se transformar
em livro em 2021, ela
quer dar ferramentas
a novos desbravadores
da cultura brasileira 
As pessoas estão sedentas
por aquilo que elas ainda
não conhecem sobre o nosso
país, diz. “Eu quero
formar uma legião de
soldados, porque ainda tem
muita coisa a ser feita”

é outra
conversa.

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