fotos: Juan Ignacio Schenone /
arquivo pessoal
POR: carol ito

Da etnia Guarani Mbyá, ela
combina os saberes ancestrais
com a ciência médica

Myrian Krexu,
a primeira cirurgiã
cardiovascular
indígena do Brasil

“Não existe futuro sem
preservar o que é ancestral”,
defende a médica Myrian Krexu,
que cresceu na Terra Indígena
Rio das Cobras, no Paraná 
Da infância, ela carrega
os aprendizados da mata
e as tradições passadas
de geração em geração pelo
povo Guarani Mbyá
“O povo Guarani tem um modo
de vida muito característico,
o que chamamos de ‘Nhandereko’,
que seria o jeito de ser
guarani e também um sentimento
de pertencimento”, explica
“Tudo tem um significado e uma
história: os grafismos, os ritos,
a passagem do tempo e das
estações e a forma de se viver,
devagar, um dia e um momento
de cada vez, aguardando
e respeitando o tempo”
O interesse de Myrian pela
medicina surgiu na infância,
quando ela quebrou o braço
e entrou em contato com um médico
pela primeira vez. A menina
travessa que gostava de montar
e desmontar coisas logo
se interessou pela profissão
destinada à “consertar gente”,
como dizia seu pai
Em 2013, ela concluiu
a graduação em medicina
em uma universidade pública
do Paraná e passou os três anos
seguintes trabalhando na atenção
básica às comunidades indígenas
“Não é de hoje que a saúde
indígena é negligenciada.
A situação dos Yanomami,
por exemplo, é crítica e reflexo
de anos de invisibilidade
por parte das autoridades”
Depois do período trabalhando
em aldeias, especializou-se
em cirurgia cardíaca e se tornou
a primeira profissional
indígena da área
Para Myrian, não é difícil
juntar os saberes tradicionais
com as práticas médicas
que a acompanham no dia a dia
em Curitiba, onde vive atualmente
“Os saberes tradicionais
são os ancestrais da ciência.
Muito do que conhecemos
e comprovamos hoje através
de estudos científicos começaram
com a observação
dos povos da floresta”
Para ela, é importante
que existam profissionais
pertencentes a todos os povos
e grupos na área da saúde

“A medicina ainda é muito
elitizada, infelizmente.
Eu já tive que estudar passando
fome e não há nada de romântico
em tanta luta. Muita gente precisa
sobreviver antes de estudar. Por
isso temos POUCOS profissionais
de saúde indígenas, pretos
e periféricos em situação
de vulnerabilidade social”
“Já pensou, por exemplo,
no impacto positivo que é ter
um profissional de saúde portador
de deficiência na reabilitação
e cuidados dos pacientes? Existem
pacientes de todos os povos
e características,
por que não médicos diversos?”

é outra
conversa.