Por: Nathalia Zaccaro
Imagens: Arquivo Pessoal

Maternidade preta, periférica
e sapatão

Aline Custódio e Alessandra
Oliveira, que dividem suas
rotinas como mães de Jamal e
Jawari no @maternidadesapatao,
dão a real sobre a experiência

Logo que Aline e Alessandra
se conheceram, em 2018,
bateu a vontade de formar
uma família: “Como toda
boa sapatão, no começo
do namoro já planejávamos
casar, criar gato,
cachorro e ter filhos”

Quando decidiram tirar
os planos do papel, se
depararam com um problema:
os altos custos de
procedimentos como
inseminação artificial
e fertilização in vitro 

“Somos da quebrada,
não temos condição de
pagar tanto por esses
tratamentos”, conta Aline

“Chegamos a pensar na
fertilização caseira,
mas decidimos esperar um
pouco mais, pensar melhor.
Até porque a gente tinha
noção de como a sociedade
trata uma mãe preta de
periférica”

Alguns meses depois, no
início de 2020, surgiu uma
oportunidade: a ovodoação
compartilhada

O processo é o seguinte:
uma mulher fértil doa óvulos
para outra mulher que, em
contrapartida, arca com
boa parte dos custos da
fertilização in vitro
de sua doadora

Aline doou seus óvulos
e, assim, conseguiu
viabilizar o procedimento.
Como a Alessandra tinha
o sonho de gestar, foi ela
que engravidou”, conta 

A gestação foi um momento
mágico, mas teve seus
perrengues. “Foi como
encarar nove meses com
as duas de TPM”

“Ficamos em choque também
por causa da pandemia.
A Ale engravidou em
fevereiro e em março
já estávamos sozinhas
isoladas em casa, com medo
de como seria o pré-natal”

Deu tudo certo. Os meninos
nasceram e não escondem
a alegria por contarem
com duas mamães preparadas
para alimentá-los sempre
que desejam

“Como a Ale passou por
todo o rolê da gravidez
– que é mó trampo – achei
justo que eu ajudasse na
amamentação. Então passei
pelo processo de introdução
à lactação, que foi bem
rápido e simples”

“Eu gosto bastante
de amamentar, mas não
romantizo. É um trabalho
árduo, às vezes não tô
afim. Você disponibiliza
totalmente seu corpo
para seus filhos. É
lindo e cansativo”

Outro momento emocionante
dessa história foi o dia
de registrar Jamal e Jawari
no cartório do Capão Redondo,
na periferia de São Paulo,
onde vive a família

“A gente entrou para a
história da nossa quebrada
como o primeiro casal LGBT
a registrar dois bebês no
cartório. Quando vierem
os próximos, vão se
lembrar da nós”, conta

Em janeiro de 2021,
elas criaram um perfil
no Instagram pra dividir
essa experiência da dupla
maternidade preta sapatão
e de quebrada. Segue lá:
@maternidadesapatao

é outra
conversa.