Maternidade negra 

Como é ser mãe de crianças
pretas no Brasil? Karol
Conka, Deh Bastos e outras
mulheres negras falam sobre
os desafios da experiência

Por: Dandara Fonseca
Ilustração: Mariane Ayrosa
Colocar uma criança no mundo
e encarar a maternidade é
uma equação complexa, que
envolve dúvidas, medos,
idealizações e receios
Ilustração: Camile Pasquarelli
Ser uma mãe negra e criar
uma criança negra no mundo
em que vivemos aumenta
ainda mais os desafios
dessa experiência
Ilustração: Mariane Ayrosa
“Se estivessem tão claras
as consequências do racismo
nas crianças, eu não sei
se teria planejado ter um
filho, conta Deh Bastos,
cofundadora do projeto
Criando Crianças Pretas
e mãe de José
Foto: Juliana Bastos/ divulgação
A experiência da maternidade começou diferente do que
ela imaginava logo na
hora do parto:

A médica falou que eu ia
ter que tirar ‘isso aí do
cabelo’ – referindo-se às
minhas tranças, lembra
Ilustração: Mariane Ayrosa
Existe, sim, um problema
por conta do bisturi
elétrico. Isso serviria,
por exemplo, para as
mulheres brancas que usam
megahair, mas ninguém diz
isso a elas dessa forma”
Ilustração: Mariane Ayrosa
Com a chegada de José
nasceu uma nova preocupação:
o medo de, por seu filho
ser um negro de pele clara,
ele ter a sensação de não
pertencer a nenhum lugar,
algo comum na vivência
de negros não retintos
Ilustração: Mariane Ayrosa
Ela pensou que outras mães
de crianças negras poderiam
estar enfrentando questões
relacionadas à raça e decidiu
abrir um espaço para essas
conversas, que batizou de
Criando Crianças Pretas
Ilustração: Mariane Ayrosa
A estudante de design gráfico
Maria Fernanda Vilela também
percebeu logo no início da
gestação que a experiência da
maternidade seria atravessada
por questões raciais
Foto: arquivo pessoal/ divulgação
Na sala de espera da
obstetra não havia uma foto
de um casal negro. Foi ali
que eu percebi que aquela
jornada seria diferente
pra mim e, futuramente,
para o meu bebê, conta
Ilustração: Mariane Ayrosa
Ela se preocupa com as
violências que o filho
pode sofrer na vida:

Fico me perguntando:
como será quando ele for a
um show? E na universidade,
vai passar por algum tipo
de exclusão se for cotista?”
Ilustração: Mariane Ayrosa
Colocar uma criança negra
no mundo é pensar que ela
vem com uma bagagem, diz
a influenciador Rízia
Cerqueira, mãe de Yaweh
Ilustração: Camile Pasquarelli
Você tem que explicar
como é o dia a dia de uma
pessoa negra no Brasil,
como é lidar com a
violência na rua”
Ilustração: Mariane Ayrosa
Para a cantora Karol Conka,
a gravidez veio de forma
inesperada, aos 19 anos.

O problema maior foi
enfrentar uma sociedade
que julgava uma menina
preta, da periferia,
rapper e mãe solteira 
Foto: Karol Conka Produções Artísticas/ divulgação
Apesar de seu filho ter a
pele mais clara e não viver
as mesmas frustrações raciais
que ela, Karol acredita que
algumas precauções que ouviu
de seus pais e avós acabaram
sendo passadas para Jorge
Ilustração: Mariane Ayrosa
Somos ensinados desde
pequenos a andar no mercado
sem encostar na prateleira
para não nos acusarem
de roubo, nos dizem
para sermos extremamente
educados para não acharem
que somos bandidos, diz
Ilustração: Mariane Ayrosa
Uma das preocupações das
mães é como elas podem fazer
para que seus filhos não
precisem passar por tantas
situações traumáticas como
as que elas passaram,
diz a psicóloga perinatal
Fabiana Villas Boas
Foto: arquivo pessoal/ divulgação
Elas se indagam como
vão colocar um filho
no mundo e conseguir
protegê-lo das violências,
ou como vão lidar quando
ele passar por elas”
Ilustração: Mariane Ayrosa
Fabiana conta que, para
evitar ambientes tóxicos,
as mães têm buscado cada
vez mais escolas com colegas
e profissionais negros, as
transformando assim também
em espaços de identificação
Ilustração: Mariane Ayrosa
Para Deh Bastos, uma das
coisas mais importantes que
uma mãe pode dar aos filhos
é a representatividade
Ilustração: Mariane Ayrosa
Quero normatizar os corpos
pretos, dar referências
a ele por meio de bonecos
negros, livros, desenhos,
vídeos, diz
Ilustração: Mariane Ayrosa

é outra
conversa.

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