Por: Milly Lacombe
Fotos: Jonathan Perugia/Divulgação

À frente do movimento
I Am the Code,
a senegalesa quer
ensinar programação
a 1 milhão de meninas

mariémme jamme

As chances de
Mariéme Jamme
prevalecer
eram mínimas
Abandonada pela mãe
aos 5 anos, passou por
mais de 28 orfanatos
em Dakar, no Senegal
Aos 14, foi
separada do irmão
gêmeo e traficada
para a França,
onde sofreu abusos
sexuais e precisou
viver nas ruas
Foi num centro de
refugiados, aos 16
anos, que aprendeu
a ler, escrever e
entendeu que havia
nos livros uma paixão
A menina, que anos
antes não sabia
quem era nem
o que significavam
necessidades básicas
como afeto e carinho,
começou a mudar
sua história
“Se eu visse duas pessoas se beijando ou se abraçando, eu ficava tentada a separar achando que era briga”, disse Mariéme
Trabalhou em casas de família, fez faxina, cozinhou e conseguiu emprego em um supermercado. Nas horas livres, se trancava na biblioteca e estudava programas como o Excel
Desde sempre os
números foram seus
amigos e a paixão
que a faria voar
“Quanto mais estudava,
mais pensava, e comecei
a ficar perturbada
com algumas questões. Por que tinha passado
por tudo isso?
O que significaria
minha vida?”
Entre tantas perguntas
e mergulhada em
cálculos matemáticos,
começou a fazer
carreira em bancos
na Europa
Quando trabalhava no
HSBC, foi chamada pelo
chefe e, pensando
que seria demitida,
se surpreendeu com
o recado: “Você sabe
o que você fez? Você
fez US$ 75 milhões
para o banco”
Ela não tinha
muita ideia do que
significava aquele
valor e respondeu
apenas: “Verdade?
Que bom”. Mas foi
recompensada com
uma comissão que
mudou sua vida
Mariéme entendeu
que não foi a única
a ter a vida roubada
por um sistema cruel
e desumano e decidiu
se dedicar a salvar
a vida de outras
meninas através
da tecnologia

"Passei a me colocar,
a criticar celebridades
que usavam as tragédias
na África para se
promover, passei
a emprestar minha
voz a essas crianças”
Em 2009, ela deu
início ao movimento
I Am the Code, que
pretende ensinar
programação a um
milhão de meninas
na África e no
mundo até 2030
“Aprendi a programar
sozinha, então
quero dar poder
às gerações futuras
com o conhecimento
da tecnologia.
Meninas e mulheres
são o futuro.
Feminismo é dar
poder a mulheres
e a meninas”
Mariéme é alguém que
não deveria ter sido.
Mas ela é. E, ao
prevalecer de forma
tão arrebatadora,
está ajudando outras
meninas e mulheres
a fazerem o mesmo
Ela quer mudar o mundo,
uma programadora por
vez, e quebrar
silêncios. Enquanto
todas as meninas e
mulheres do mundo não
forem livres, nenhuma
de nós de fato será

é outra
conversa.

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