fotos: glauber bassi / divulgação / arquivo pessoal POR: nina rocha

Maju de Araújo é a primeira
modelo brasileira com
Síndrome de Down a levar
bandeira de corpos mais
diversos para as principais
passarelas do mundo
– e ela quer ainda mais

Corpos
diversos nas
passarelas

Morar sozinha, fofocar com
as amigas e beijar na boca.
As vontades de Maju de Araújo
são semelhantes a de muitas
mulheres de sua idade. A diferença
é que ela já desfilou em grandes
palcos internacionais, como
o São Paulo Fashion Week
e a Semana de Moda de Milão
É assim que Maju quer ser vista:
uma jovem de 21 anos cheia
de sonhos e disposição para
alcançá-los. A primeira ambição
já foi riscada da sua lista
de desejos: abrir as portas
da moda para profissionais como ela,
uma modelo com Síndrome de Down
O desejo de conquistar
as passarelas e a afinidade
com as poses veio cedo em sua vida
de Maju. Sua família guarda vários
registros da infância que revelam
as caras e bocas cheias
de estilo sempre que ela avistava
uma câmera. Desfilar era sua
brincadeira de criança
Depois de enfrentar um problema
de saúde, ela confidenciou à família
o sonho de ser uma modelo famosa.
Mesmo sabendo que o caminho
a ser percorrido estaria cheio
de portas fechadas, seus pais
investiram na aposta
Se a inserção em ambientes como
a escola já era repleta de
preconceito, em um universo tão
excludente quanto a moda, o desafio
seria ainda maior. Para conquistar
seu lugar nas passarelas, Maju foi
atrás de um registro profissional,
participou de desfiles amadores
e fez inúmeras sessões de fotos
Afinal, a autoestima e as posturas
necessárias para se tornar
uma grande modelo já estavam ali.
Adriana de Araújo, mãe de Maju,
conta que ela sempre se olhou
no espelho dizendo: “Eu sou linda,
eu sou muito gata!”
Adriana acompanha a agenda de Maju
e também ajuda na comunicação,
pois a filha tem dificuldades de fala.
Ela ressalta que os avanços
de sua carreira foram alcançados
por insistência e que nenhuma
oportunidade surgiu por alguém
ter ficado ‘com pena’
“Acham que pessoas com deficiência
não têm capacidade de explorar
o mercado. A verdade não é essa.
A Síndrome de Down é um detalhe.
Antes da deficiência vem a Maju,
uma mulher cheia de possibilidades
e qualidades”, diz Adriana
É com carisma e talento que Maju
de Araújo leva a bandeira
da diversidade para as passarelas
e campanhas publicitárias pelo
mundo. Seu corpo de 1,49 m não segue
o padrão de mulheres magras e altas
celebrado pela moda e reforça que
a beleza precisa ter
mais exemplos inclusivos
Ser uma modelo com Síndrome
de Down está longe de ser um
sinônimo de diárias mais calmas:
as jornadas de trabalho às vezes
duram horas e são encaradas com
profissionalismo. Sem preferir
as passarelas ou os sets,
Maju conta que ama tudo que faz
Além da participação em desfiles
e campanhas, ela se tornou
a primeira embaixadora brasileira
com Síndrome de Down da L’Óreal Paris
e conduz os “publis” que alcançam
seus mais de 600 mil seguidores
no Instagram – sempre mostrando
a sua rotina com leveza e bom humor
em looks cheios de brilho
Apesar ocupar espaços importantes
para a representatividade, Maju
e sua família reconhecem que os
avanços ainda são tímidos diante
das necessidades de combater
o capacitismo e a discriminação
nas relações profissionais
e pessoais de quem tem deficiências
físicas e intelectuais
“As pessoas com deficiência não
precisam se moldar para estar em um
lugar, os lugares que precisam se
adequar. Muitos acabam acreditando
que não pertencem aos espaços,
mas esse pertencimento sempre
existiu na Maju”, conta Adriana
A modelo não quer parar tão cedo.
Em seus planos estão lançar uma
marca de roupas e desfilar na França.
“Vou voltar para Paris”, sonha Maju,
enquanto segue desbravando a moda
em busca de ainda mais inclusão
e diversidade

é outra
conversa.