Muito prazer,
angustia 

Liberdade sexual é transar
com todo mundo de todos
os jeitos? A compreensão
do que é sexo livre para
uma mulher passa 
por machismo,
autoconhecimento e Leila Diniz

Por: Nathalia Zaccaro
Imagens: Eugenia Loli
Eu posso dar para todo
mundo, mas não dou para
qualquer um – não sei
de quem é essa frase,
mas gosto dela”, diz a
estudante Gabriela Jacques
A frase de Leila Diniz,
ícone do feminismo brasileiro,
ainda inspira mulheres em
movimento por suas liberdades,
mesmo depois de inúmeras
transformações sociais
Quase 50 anos mais tarde,
sabendo que podem dar para
todo mundo, garotas como
Gabriela investigam a si
mesmas para tentar sacar
os prazeres e as angústias
de uma recém-conquistada
liberdade sexual
Mulheres entenderam que
sua iniciação sexual não
precisa ser com homens,
existe a possibilidade
de intercalar combinações,
sem declarar nada como
definitivo, diz a
psiquiatra Carmita Abdo
Transar sem precisar
corresponder a expectativas
românticas ou reprodutivas
permitiu que mulheres
começassem a se compreender
como seres sexuais, que
têm desejos, fantasias
e vontade de gozar
Faço sexo com pessoas
que acabei de conhecer
porque deu tesão, curto
demais minha suposta liberdade, mas, ao mesmo
tempo, fico mal, não
sei explicar o motivo”,
conta Letícia Ferreira
Se transar casualmente,
com homens, mulheres, um
ou mais parceiros, e sem
culpa, é uma conquista nossa,
abdicar dessa possibilidade
seria sucumbir à norma? 
O medo de não estar sendo
livre como deveria pode
ser uma das respostas para
o vazio que rola às vezes
Existe um abismo entre
o meu discurso, o que
eu acredito, e como me
sinto em relação a mim
mesma”, diz a estudante
Gabriela Jacques
Mesmo quem subverte os
modelos de relacionamento
tradicionais e experimenta
novos formatos precisa
lidar com desejos que
parecem inadequados
à lógica da liberdade
Existe um script de como
deve ser nossa vida e
eu nunca acreditei nele, 
por isso construí um
esquema diferente, mas
me angustia não saber
como sonhar o futuro”,
diz Mariana Ribeiro
A presença de convenções
como maternidade e casamento
no imaginário feminino é
muito profunda e é desafiador
perceber que o que você quer
não é compatível com um
núcleo familiar tradicional
Mas o tradicional
não é o único trilho.
Negar a imposição desse
script, como definiu Mariana,
pode significar incluir
maternidade e monogamia
em novas configurações
Afrouxar opressões machistas
que por séculos ditaram o
que pode ou não ser feito
da vida – e do clitóris –
de uma mulher é, sem dúvida,
ampliar nossas possibilidades
de felicidade 
Não há chance de plenitude
para uma mulher moderna sem
algum nível de liberdade.
Ter que inventar sua narrativa
e seguir sem garantias é
assustador, é um flerte com
o precipício, e é liberdade
Só o que dá para ter certeza
é de que não existe uma
liberdade mais livre que
a outra. Não existe conduta
que garanta liberdade sem
respeito à subjetividade
de cada uma
Os momentos em que senti
que estava descobrindo
alguma coisa sobre mim
foram situações em que
estava OK querer coisas
e tudo certo não querer
coisas também, diz
Gabriela Jacques
Está tudo bem ir
entendendo como quero
me colocar e ir aceitando
como me sinto. Não é
resposta, mas acho que
é um primeiro passo”
Na real, aceitar nossos
desejos é bem mais que
um primeiro passo

é outra
conversa.

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