Criada no Complexo da Maré, a maranhense usa suas músicas para falar sobre a realidade dos indígenas que vivem fora das aldeias
Kaê Guajajara: canto ancestral
“Eu queria poder cantar sobre os pássaros, as árvores, a natureza. Mas isso é difícil quando ainda preciso afirmar o tempo todo que existo, que não sou um folclore”, diz Kaê Guajajara
Foto: Divulgação
Natural do Maranhão, ela nasceu em um território indígena não demarcado pela Funai que sofre constantes ataques de madeireiros. Sua família trabalhava em uma fazenda, recebendo farinha como salário
Foto: Divulgação
Aos 8 anos, a cantora foi morar no Rio de Janeiro, mais especificamente no Complexo da Maré. Lá, ela passou a viver a experiência de ser uma indígena em contexto urbano
Foto: Reprodução
"Existe uma ideia colonial de que o indígena não pode transitar pelo território, não pode usar tecnologia. Sofri inúmeros preconceitos que fizeram com que eu me entendesse nesse lugar”, conta
Vídeo: Reprodução
Na adolescência, Kaê formou uma banda de rap chamada “Crônicos” ao lado de dois amigos angolanos. Nas músicas, o grupo contava as violências que sofria dentro da comunidade
Vídeo: Reprodução
“Como meus amigos não tinham planos de expandir o trabalho para fora da Maré, preferi seguir caminho solo. E aí foi quando eu comecei a falar mais da minha realidade como indígena”
Vídeo: Reprodução
Com o tempo, Kaê entendeu que muitas pessoas reproduziam preconceitos sobre os indígenas por ignorância, e viu em suas músicas uma forma potente de mudar essa realidade
Foto: Divulgação
“Quando falava sobre as questões indígenas, era monótono, e muitas vezes as pessoas se muniam de estereótipos. Com a música, sinto que elas estão mais abertas a conhecer, a trocar”, diz
Foto: Divulgação
Após alguns singles e três EPs – Hapohu, Uzaw e Wiramiri –, Kaê lançou em 2021 o primeiro álbum, Kwarahy Tazyr, que significa "Filha do Sol” em zeeg’ete, língua de seu povo
Foto: Divulgação
“Meus primeiros trabalhos tinham o objetivo de informar os não-indígenas, mas depois fui entendendo que a colonização também invade, e aí minhas músicas passaram a acolher e informar os parentes”
Vídeo: Reprodução
Hoje os trabalhos de Kaê ultrapassam as barreiras da indústria musical e são usados até mesmo em escolas: “As pessoas precisam saber sobre nossa realidade diretamente de nós”, diz
Foto: Abimael Salinas/Divulgação
Nos últimos anos, Kaê também foi entendendo melhor questões relacionadas ao gênero e se reconheceu como uma pessoa não-binária – ou seja, que não se identifica com os gêneros feminino nem masculino
Foto: Abimael Salinas/Divulgação
“Quando eu dizia que era mulher, não sentia que era 100% verdade, então passei a falar que era fluida. Acho super normal uma pessoa indígena tentar se expressar da forma que conhece”, explica
Foto: Reprodução
Kaê acredita que ainda é bem mais complexo para os artistas indígenas alcançarem uma posição de destaque na indústria musical brasileira, mas segue lutando para que ela e outros ocupem esse espaço
Vídeo: Reprodução
“Quero dizer algo para as pessoas que estão organizando Shows e festivais no Brasil: diversidade não é só preto e branco. Nós, artistas indígenas, existimos e somos muito capazes. Abram esse espaço”