Por: Alana Della Nina
Ilustração: Daiana Ruiz/ divulgação

Por que falamos tão pouco
sobre as mulheres que
não podem engravidar?
A Tpm enfrentou o tabu da
infertilidade e os sentimentos
de vergonha e solidão que
acompanham o silêncio

A fonte secou 

Ao decidir tentar
engravidar, a executiva
Renata Altenfelder descobriu
que tinha uma contagem baixa
de óvulos. Era o início de
uma jornada que duraria
quatro anos

Das cinco tentativas de
fertilização in vitro,
apenas uma resultou em
implantação, mas sem
sucesso. “Um dia antes
da data que confirmaria
a gravidez, perdi”, conta

Do processo, ficaram
as marcas físicas e
emocionais: o inchaço,
as dores, o desânimo,
a angústia. “Para quem
tentou o tratamento e não
conseguiu, como eu, há
coisas de que acabamos
não falando”

A história de Renata,
assim como a de outras
tantas mulheres, corre na
sombra das bem-sucedidas
experiências da maternidade

De acordo com a Organização
Mundial da Saúde, um em cada
dez casais enfrenta problemas
de fertilidade no Brasil. As
causas masculinas equivalem
a 50% dos casais inférteis,
mas são facilmente tratáveis

As causas da infertilidade
feminina nem sempre, e podem
ser muitas: endometriose,
cicatrizes crônicas de
inflamação pélvica, síndrome
de ovário policístico
e menopausa precoce

Ilustração: Daiana Ruiz/ divulgação

“A impossibilidade de
engravidar gera vergonha e
um sentimento de inadequação.
Vivemos essa frustração muito
sós”, diz a professora de
ioga para crianças Priscila
Fernandes de Gouveia

Aos 36 anos, ela perdeu
o bebê duas vezes, na 14ª
e na 9ª semana de gravidez,
entrou em depressão e encarou
um tratamento psiquiátrico
antes de partir para a
fertilização in vitro

Os sete anos de tentativas,
no entanto, minaram as
energias e o casamento
de Priscila. “As clínicas
de fertilização tratam
pacientes em linha de
produção e não oferecem
suporte emocional”, diz

“A mulher tem que estar
muito estruturada para
começar um tratamento,
porque ele te desconstrói
totalmente”, diz Shirlen
Leal, que desde os 19 sabia
que não poderia engravidar
por ter removido o útero 

A empresária decidiu ter
um filho com a ajuda da
irmã, por meio da barriga
solidária. Aos 30, ela
e o marido iniciaram o
tratamento de fertilização
in vitro e passaram quatro
anos tentando

“Você vai com a expectativa
de engravidar de primeira.
Mas não funciona assim.
São muitos tratamentos
invasivos, monitoramento”,
conta ela, que teve sucesso
na segunda tentativa e hoje
é mãe de Samuel

A jornalista Débora Rubin
discutiu em muitas sessões
de terapia se seu desejo pela
maternidade era real ou fruto
de uma construção social

Ilustração: Daiana Ruiz/ divulgação

“Tenho a sensação de que
existem só duas alternativas:
ou você é louca para ser
mãe ou não gosta de
crianças”, diz

Aos 37 anos, ela decidiu
engravidar, mas sofreu um
aborto espontâneo seguido
de um luto difícil e
solitário. “Todo mundo fala
que é comum. Comum para quem?
Para mim, não foi. É um
processo doloroso” 

Olhar para essa jornada com
coragem e encarar o suposto
fracasso foi fundamental
para cada uma delas entender
que o sonho de ser mãe não
precisa morrer para uma nova
história de vida começar
– ele pode ser reinventado
de outras formas

“Sei que nunca vou sentir
o olhar de um filho e
acredito que seja único”,
diz Renata. “Mas invisto
esse amor nos meus sobrinhos,
nos filhos de amigos.
Maternidade é cuidar das
pessoas que você ama”

“Deveríamos ensinar
meninas a olhar a vida
como um projeto em que
abrimos vários caminhos.
A maternidade é só uma
das muitas opções fantásticas
que temos”, conclui Débora

é outra
conversa.