POR: Iana Villela

Se relacionar com mulheres
não é reabilitação para
corações traumatizados,
para parcerias domésticas
ou solução para carga mental

"Da próxima vez,
só caso se for
com mulher"

Eu ando cansada do
discurso comum nas
conversas entre amigas,
quando as reclamações
sobre os comportamentos
dos homens viram coro
em dó maior. 

Apesar dos ares
progressistas, é uma
reprodução homossexual
dos relacionamentos
hétero-patriarcais: esperar
cuidado e compreensão
somente das mulheres
Se relacionar com mulheres
não é reabilitação para
corações traumatizados,
para parcerias domésticas,
de carga mental. O único
motivo para casar com
uma mulher deve ser sentir
tesão e se apaixonar por
outra mulher
A desvalorização crassa
da paixão que mulheres bis
e gays sentem umas pelas
outras também bate com o
pé na quina da ideia de
'prêmio de consolação',
do relacionamento existir
por não ter aparecido
nada melhor
Esse discurso, inclusive, é
alicerce da invisibilização
desse tipo de amor, muitas
vezes chamado de fase. Ou
de crimes como o estupro
corretivo, a ideia que uma
mulher sente desejo por
outra porque não teve o
devido contato com um
pênis competente
É compreensível a decepção
que mulheres hétero e
bissexuais vivem na maioria
dos relacionamentos com
homens. Cada louça na
pia, data importante
negligenciada ou inabilidade
emocional é um post-it
imaginário colado em nossa
testa, lembrando a solidão
na vida familiar
A instituição casamento,
como existe hoje, é
comprovadamente mais
vantajosa para eles. Uma
pesquisa apontou que homens
casados têm salários maiores
e vivem até 10 anos mais.
A conclusão dizia que o
preconceito com casamento,
a história do game over
repetida à exaustão,
precisava acabar
Em nenhum momento é
iluminada a gaveta escura
onde se agita a sobrecarga
feminina. Nossa insatisfação,
embora pouco visível, é bem
fundamentada. Afinal, quem
marca os médicos, lembra de
exames, cuida da alimentação
e filhos desses homens
longevos e bem-sucedidos?
É aceitável querer viver
uma experiência igualitária.
Ainda assim, o nosso descanso
não está na troca de gênero,
até porque não estamos
falando de escolhas. O que
precisamos é de modelos
novos de relacionamento
Se relacionar é caminhar
junto em busca constante
pelo equilíbrio, ora pendendo
para um lado, ora para
o outro. Parceira nenhuma
merece o peso de ser um divã
sentimental para outra pessoa
se deitar confortavelmente.
Nem as casadas com homens,
nem com mulheres

é outra
conversa.