Como perfis nas redes sociais estão vendendo o ódio às mulheres
A monetização da misoginia
“Tem crescido um movimento que busca moldar o comportamento de mulheres em troca de afeto. Esse fenômeno tem raízes no redpill (conceito de extrema direita que defende que homens não devem se relacionar afetivamente com mulheres, pois todas seriam manipuladoras e/ou interesseiras)”
“A desconfiança e o desprezo público às mulheres têm sido normalizado. Muitas vezes, a depreciação à mulher associa-se a discursos de cunho religioso (mulheres que não edificam o lar) e até supostamente biológicos (comportamentos não-naturais)”
“Muitas análises comportamentais ‘biologizantes’ são propagandas sem nenhum embasamento teórico- científico, utilizando conceitos vagos como ‘energia feminina’ e ‘energia masculina’”
“A masculina estaria associada à esfera pública (foco no trabalho, vida social, capacidade de deliberação), enquanto a feminina, à esfera privada (foco na família, vida íntima, capacidade de resignação)”
“Mulheres taxadas com ‘energia masculina’ são, simplesmente, aquelas que assumem um protagonismo diante da esfera pública. Ao apontar que a sociedade vive ‘uma inversão de valores’, o que esses discursos machistas fazem, na verdade, é tentar afastar as mulheres da vida social”
“Busca-se enfraquecer a capacidade de elas tomarem decisões acerca de seus próprios destinos. Ao minar a autoestima e a confiança dessas mulheres, e culpabilizá-las por não terem relacionamentos amorosos saudáveis, o mercado surge com uma solução”
“Uma série de produtos digitais vende a ideia de que é possível conseguir um relacionamento perfeito ao ‘aumentar sua energia feminina’ ou se tornar uma ‘mulher de alto valor’, que nada mais é do que uma forma de categorizar e hierarquizar mulheres”
“Para estar em uma categoria que ‘mereça’ respeito e afeto, então, a mulher deveria moldar seu comportamento àquilo que é esperado pelo patriarcado: ser submissa, isentar-se da esfera pública e estar dentro de determinado padrão de beleza”
“O mercado sabe que a demanda será maior na medida em que a dor do cliente aumentar. Por isso, os fenômenos dos redpills e das ‘mulheres de alto valor’ se complementam. O primeiro cria a exclusão afetiva de mulheres, enquanto o segundo vende o antídoto mágico para reconquistar o afeto negado”
“Mulher, não caia nessa. Qualquer curso ou produto que te culpabilize por não ser respeitada, amada ou valorizada está te vendendo misoginia”