POR Mariane Santana

Como perfis nas redes
sociais estão vendendo
o ódio às mulheres

A monetização
da misoginia

“Tem crescido um movimento que
busca moldar o comportamento
de mulheres em troca de afeto.
Esse fenômeno tem raízes no
redpill (conceito de extrema
direita que defende que homens
não devem se relacionar
afetivamente com mulheres, pois
todas seriam manipuladoras
e/ou interesseiras)”

“A desconfiança e o desprezo
público às mulheres têm sido
normalizado. Muitas vezes, a
depreciação à mulher associa-se
a discursos de cunho religioso
(mulheres que não edificam o lar)
e até supostamente biológicos
(comportamentos não-naturais)”

 “Muitas análises comportamentais
‘biologizantes’ são propagandas
sem nenhum embasamento teórico-
científico, utilizando conceitos
vagos como ‘energia feminina’
e ‘energia masculina’”

“A masculina estaria associada
à esfera pública (foco no
trabalho, vida social, capacidade
de deliberação), enquanto
a feminina, à esfera privada
(foco na família, vida íntima,
capacidade de resignação)”

“Mulheres taxadas com ‘energia
masculina’ são, simplesmente,
aquelas que assumem
um protagonismo diante
da esfera pública. Ao apontar
que a sociedade vive ‘uma
inversão de valores’, o que
esses discursos machistas
fazem, na verdade, é tentar
afastar as mulheres
da vida social”

“Busca-se enfraquecer
a capacidade de elas tomarem
decisões acerca de seus
próprios destinos. Ao minar
a autoestima e a confiança
dessas mulheres, e culpabilizá-las
por não terem relacionamentos
amorosos saudáveis, o mercado
surge com uma solução”

“Uma série de produtos digitais
vende a ideia de que é possível
conseguir um relacionamento
perfeito ao ‘aumentar sua
energia feminina’ ou se tornar
uma ‘mulher de alto valor’,
que nada mais é do que
uma forma de categorizar
e hierarquizar mulheres”

“Para estar em uma categoria que
‘mereça’ respeito e afeto, então,
a mulher deveria moldar seu
comportamento àquilo que
é esperado pelo patriarcado:
ser submissa, isentar-se da esfera
pública e estar dentro
de determinado padrão de beleza”

“O mercado sabe que a demanda
será maior na medida em que
a dor do cliente aumentar.
Por isso, os fenômenos
dos redpills e das ‘mulheres
de alto valor’ se complementam.
O primeiro cria a exclusão afetiva
de mulheres, enquanto o segundo
vende o antídoto mágico para
reconquistar o afeto negado”

“Mulher, não caia nessa.
Qualquer curso ou produto
que te culpabilize por não ser
respeitada, amada ou valorizada
está te vendendo misoginia”

é outra
conversa.