Insatisfeita com a falta de informação sobre sexo seguro entre mulheres com vulva, a publicitária Nicolle Sartor decidiu criar sua própria cartilha, a Velcro Seguro
Não encontrar orientações e se deparar com materiais genéricos na internet é uma experiência recorrente entre mulheres que mantêm relações sexuais com outras mulheres
Quando a publicitária Nicolle Sartor fez um mapeamento sobre o assunto, percebeu que o conteúdo disponível, mesmo aquele produzido pelo Ministério da Saúde, não era suficiente
Os materiais que encontrou eram praticamente inacessíveis ou colocavam no mesmo contexto todas as letras da sigla LGBT, dificultando que cada uma delas pudesse ser contemplada apropriadamente
Com o acompanhamento da médica Thais Machado Dias, do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde, ela criou o Velcro Seguro, guia de saúde sexual para minas lésbicas e bissexuais com vulva
“Quando você coloca um grupo para protagonizar um material, não tira a necessidade de diferentes produtos para outras comunidades”, explica
A prevenção de ISTs entre a população LGBT+ começou a ganhar espaço com a epidemia de HIV no Brasil, na década de 80, e políticas de saúde sobre o tema foram incorporadas na agenda do governo
Mas e as mulheres lésbicas e bissexuais com vulva? Tanto tempo depois, ainda é raro encontrar materiais e políticas públicas que as contemplem – sequer existem dados sobre a saúde sexual deste grupo
“As mulheres lésbicas e bissexuais têm um uso muito precário de preservativos por um motivo muito simples: não foram feitos para vaginas, nem para o sexo”, explica a médica Thais Machado Dias
O uso de camisinhas cortadas, dental dam (quadradinho de látex que pode ser usado no sexo oral) e dedeiras, por exemplo, foram criados para usos totalmente diferentes dos que Nicolle sugere na cartilha
“Isso é sintomático de como as práticas sexuais das mulheres que transam com mulheres com vulva não são levadas em conta”, explica a publicitária
Ainda existem médicos e pesquisas que não consideram o sexo entre vulvas como uma prática de risco. Porém, os cursos de medicina atuais estão avançando nesse sentido
Apesar do tema ISTs entre LGBT+, em grande parte, não fazer parte da grade curricular formal, Thais percebe que o assunto é procurado nos congressos das áreas de Ginecologia e Medicina Familiar
“Como um bom movimento feminista, a cartilha Velcro Seguro é uma forma de democratizar o acesso à informação”, explica a médica
O ganho de conhecimento sobre nosso corpo e nossa identidade só fortalece a luta por direito de mulheres que amam outras mulheres
“Eu espero que esse guia sirva de inspiração para que sejam criados outros materiais para comunidade LGBT+”, diz Nicolle