reportagem: milly lacombe

A cubana, que morreu aos 106
anos, passou décadas pintando
antes de conquistar a cena
artística nova-iorquina

Carmen Herrera
virou uma
artista famosa
aos 89 anos

fotos: reprodução
Carmen Herrera tinha 20 anos
quando começou a pintar.
Apesar de se dedicar às telas
quase todos os dias, por sete
décadas, suas obras ficaram
escondidas por muito tempo
Filha de um empresário da
comunicação e de uma repórter,
ela nasceu na capital de Cuba,
Havana, em 1915, mas foi educada
em Paris e morou quase toda
a vida em Nova York
Na década de 50, quando
tentou se firmar como artista,
se deu conta que o mercado
não dava espaço a mulheres
Um dia ouviu do dono de
uma galeria: “Sua obra é
espetacular, mas nunca vou
expor nada disso porque você
é uma mulher”. Foi quando
entendeu o preconceito
que iria enfrentar
Mesmo assim, Carmen seguiu
pintando. Quando a perguntavam
por que, ela respondia:
“Porque tenho que pintar.
É uma compulsão,
e me dá prazer”
Em 2004, o amigo e também
pintor Tony Bechara conversava
com o dono de uma galeria em
Nova York quando soube que
ele estava organizando uma
exposição de artistas latinos
O galerista tinha perdido uma
expositora que trabalhava com formas geométricas e buscava
uma substituta. Bechara disse:
“Formas geométricas e mulheres?
Você precisa conhecer Carmen
Herrera”. E foi quando tudo virou
Logo depois de vender o
primeiro quadro, as portas
se abriram e o trabalho de
Carmen foi parar no MoMA,
em Paris e em Londres.
Em 2014, dez anos depois,
uma obra sua chegava a
custar 400 mil dólares
“Nunca sonhei com dinheiro
e sempre achei a fama uma
coisa vulgar. Então eu apenas
trabalhei e esperei. E no fim
da minha vida fui reconhecida,
para meu espanto e prazer”,
disse à Tpm, em 2014
Na época, embora quase não
saísse mais de seu apartamento
em Manhattan e se locomovesse
em uma cadeira de rodas,
ainda pintava todos os dias.
Carmen morreu em 12 de fevereiro
de 2022, aos 106 anos

é outra
conversa.