POR: dandara fonseca
fotos: divulgação

As amigas Sônia, Helena
e Gilda falam sobre tudo
na internet, de sexualidade
à legalização da maconha,
e mostram que a tal da
terceira idade pode ser
leve e divertida

avós da razão:
envelhecendo
sem tabu

Passar horas em um boteco
bebendo e conversando
sempre foi um dos programas
favoritos de Gilda
Bandeira, Helena Wiechmann
e Sônia Bonetti, amigas
há mais de cinquenta anos
“Um dia a Cássia Camargo,
amiga que virou nossa
produtora, falou: ‘Vamos
juntar toda essa merda
que vocês falam e fazer
um programa engraçado
para tirar o velho dessa
coisa xoxa’”, conta Sônia
Assim surgiu o canal de
YouTube Avós da Razão,
que soma mais de 70 mil
inscritos – além dos 100
mil seguidores que as
acompanham no Instagram 
Reunidas em volta de uma
mesa de bar, as amigas
respondem nos vídeos as
perguntas enviadas por
seguidores “sem papas na
língua, com muita franqueza,
descontração e bom humor”,
como define Helena
Ela falam sobre sexo
depois dos 60, legalização
da maconha, velhice,
espiritualidade,
relacionamento aberto,
sem vergonha nem tabu
“Gosto de responder
sobre tudo, porque tem
assuntos que a gente
aprende também. No nosso
tempo não se falava do
movimento LGBT+, das
vivências das pessoas
trans, é uma troca muito
instigante, diz Gilda
Durante a pandemia,
o canal teve um papel
ainda mais importante:
Nós três moramos sozinhas,
então os vídeos foram uma
maneira de continuar nos
comunicando com um monte
de gente, explica Sônia
No isolamento, além
de responder perguntas
no YouTube, o trio começou
a produzir alguns quadros
no Instagram. Nos posts,
Gilda fala sobre moda,
Helena sobre cinema,
e Sônia sobre culinária 
Em meio às mensagens de
elogios e agradecimento,
o preconceito também
aparece. Uma vez um
cavalheiro disse: ‘O
que essas velhas estão
fazendo aí? Por que não
vão para a igreja rezar?’”,
lembra Helena
Eu não sei que idade
tem esse tipo de gente,
mas se eles envelhecerem
com essa cabeça cheia de
preconceito vão ser uns
velhos muito infelizes,
completa Sônia
Se tem um sentimento
que não falta às três
é orgulho da idade.
Eu falo que tenho 92
anos e dizem ‘não parece’,
como se fosse elogio.
Não parece o quê? Existe
uma cara para 92 anos?,
questiona Helena
Quando a OMS divulgou
que pretende incluir
a velhice na Classificação
Estatística Internacional
de Doenças (CID), elas logo
se posicionaram. “Vamos ter
a infância, a idade adulta
e a doença?”, pergunta Sônia 
“Logo agora que os idosos
estavam conseguindo se
sobrepor à ideia de que
eles não existem, a OMS
quer fazer do velho uma
coisa só. Doença tem
nome, não se chama
velhice”, completa
Para elas, é importante
que as pessoas enxerguem
o envelhecimento de uma
forma positiva, e que os
estereótipos que existem
em torno das pessoas mais
velhas sejam esquecidos
“O nosso modo de viver
abriu muitos caminhos
para os futuros velhos.
Estamos mostrando que
envelhecer não precisa
ser complicado nem
doloroso” diz Sônia
“Cada um faz daquele
tempo da sua vida o
melhor possível. Se
você souber viver bem,
aquela idade vai ser
espetacular, diz Gilda
“O essencial é o bom
humor, que nós temos.
E quem não tem, aconselho
que comece a ter logo”

é outra
conversa.