Por: Juliana Sayuri
Foto: Jorge Bispo 
Atriz, autora,
diretora, produtora,
roteirista e sempre
ativista, ela quer
novas narrativas
para mulheres negras
e periféricas
ANA FLÁVIA
CAVALCANTI
Contar histórias
é a arte de Ana Flávia
Cavalcanti, que se
consolidou como artista
versátil no combo
cinema, teatro & TV
e se aventura como
autora, diretora
e roteirista
“Eu me identifico como uma mulher negra, parda
e periférica. Sou jovem, bissexual e, sim, bem-sucedida
Foto: Jorge Bispo
Mas não qualquer história.
Ativista,a atriz defende
novas narrativas para
mulheres como ela. 
“Ser uma mulher negra
bem-sucedida já
acontece na realidade,
na vida vivida. Por que
ainda tem um gap nas
narrativas de ficção que
são escritas para mulheres
do meu perfil? É difícil
furar essa bolha”
Foto: TV Globo/ Divulgação
Paulista de Diadema,
Ana cresceu em Atibaia.
Aos 18, mudou-se para
o Brás, na zona leste
de São Paulo. Queria estudar e ser independente.
Na infância, queria ser
aeromoça. Na adolescência,
enfermeira
Foto: Arquivo Pessoal
Foi graças a um amigo
ator que se interessou
por artes dramáticas.
Cogitou tentar o famoso
curso no Indac, mas na
época não tinha condições
de pagar. “Guardei na
gaveta esse desejo”
Foto: Carlo Locatelli / Divulgação 
Fez curso técnico de
enfermagem no Senac Santo
Amaro, onde espiava
instalações do curso de
fotografia. Um dia, uma
amiga a convidou para
posar. Ganhou fotos
reveladas e o cartão de
uma agência: “Vai lá”
Foto: Carlo Locatelli / Divulgação 
Ela foi. Passou no primeiro teste, pegou
o cachê e pagou o curso
do Indac. Aos 23
começou a atuar e não
parou. Fez o disputado
curso de Antunes Filho
e depois a oficina
de Roberto Bomtempo
na Record
Foto: Arquivo Pessoal
Instalada no Rio, se
encontrou como artista.
“Querer ser atriz foi
uma construção, não um
sonho. A vida não me
possibilitou crescer
sonhando assim. Mas vi
que era possível e fui
em frente” 
Foto: Carlo Locatelli / Divulgação 
Ana estreou na TV com
a novela “Além do Tempo”
(2015), na Globo. Depois,
fez a premiada temporada
“Malhação: Viva
a Diferença” (2017)
e a primetime “Amor de
Mãe” (2019-2020)
Foto: TV Globo / Divulgação
No cinema, fez “Rainha”
(2016) e “Casa de
Antiguidades” (2019), este
dirigido por João Paulo
Miranda e selecionado para
o Festival de Toronto
e o Festival de Cannes 
Ao lado de Julia Zakia, Ana
produziu, escreveu e dirigiu
“Rã” (2019), curta-metragem
de inspiração autobiográfica,
que foi selecionado para
o Festival de Berlim
e premiado no Festival
de Brasília 
“Dirigir foi abrir outra
frente. Descobri que era
possível. Que exigiria
muito trabalho e foco,
mas aconteceu
lindamente. Depois
disso, fiquei em paz.
O que vier pela frente,
sei que dou conta”
Foto: Juliana Bastos/ Divulgação
“Só prospera quem
persevera. Mas
infelizmente isso não
é possível para todos.
No Brasil, você precisa
ter condição para ter
condição”, critica
a atriz, engajada nos
movimentos negro
e feminista
Rumo a Berlim, viajou vestida de doméstica e orelhas de Minnie, um protesto simbólico contra a declaração do ministro Paulo Guedes: “Empregada doméstica estava indo pra Disney, uma festa danada”
Foto: Arquivo Pessoal
A atriz também faz críticas
sociais em performances.
Levou o provocativo projeto
autoral “A babá quer
passear” a endereços
elitizados em São Paulo
e no Rio de Janeiro
Foto: Arquivo Pessoal
“Um artista deve se
posicionar. O Brasil
vive um momento
obscurantista e o
chamado é maior. Quanto
mais o cerco vai se
fechando, mais a gente
precisa se mobilizar
para se defender”
Foto: Arquivo Pessoal
Ana é otimista quanto às
lutas de mulheres negras,
da representatividade
a condições dignas de
trabalho. “Avançou.
É pouco? É. A gente quer
mais? Quer. Mas o tempo
de tela é importante, sim” 
Foto: TV Globo / Divulgação
“Há de se comemorar se
pretas poderosas estão
nas capas das revistas,
se uma atriz como Viola
Davis faz um discurso
que roda o mundo, se uma
família negra estrela
uma campanha vista por
milhões no metrô”
“Chegar até aqui, agora,
é meu ponto alto. Vindo
de onde vim, estar viva
e conseguir trabalhar
como artista já é uma
vitória nesse país”, diz
Na pandemia, Ana ficou
por três meses quarentenada
em Bocaina, cidadezinha
do interior de Minas,
com o namorado-diretor
Fellipe Barbosa e
os amigos-atores Alejandro
Claveaux e Malu Galli
Foto: Heloisa Passos 
Juntos, eles escreveram
e gravaram o filme
“Bocaina”. “É um retrato
de uma época, um período
marcante da história
do mundo: a pandemia.
É sobre a complexidade
das relações humanas”
Foto: Heloisa Passos 
Vivendo entre Rio e Bocaina, começou a construir uma casa
em Algodões, na Bahia. “Era um sonho antigo e chorei de alegria por concretizar. Isso me deu certa paz para pensar sonhos novos para o futuro” 
Foto: Arquivo Pessoal
Até lá, Ana pretende
escrever mais e ganhar
terreno para contar
histórias a partir de sua
perspectiva. “Talvez fique
na ponte aérea Ilhéus –
Rio, Ilhéus – Minas, Ilhéus
– mundo. Devagar e sempre
é meu lema”
Foto: Arquivo Pessoal

é outra
conversa.

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