entrevistada por milly lacombe fotos: bob wolfenson / trip
Ela viveu como homem por 29 anos. Agora, fala da vida como mulher, doutora em literatura e ex-prostituta
Amara Moira: a revolução precisa ser sexual
Amara é um evento: doutora em Ulisses, professora de literatura, trans e bissexual, além de já ter trabalhado nas ruas como prostituta
Ela nasceu e cresceu em Campinas, numa família de classe média. Foi uma criança sozinha, excluída por ser considerada nerd, o que a fez se isolar nos livros
Foto: arquivo pessoal / divulgação
Viveu dentro de um corpo masculino por 29 anos e, como homem, teve namoradas e foi para a cama com outros homens
“Sempre me entendi bissexual, mas acredito que internalizei um bocado de homofobia”, diz
Aos 30 anos, se descobriu trans. “Uma coisa é o desejo, por quem você sente atração, e outra é como se entende, como quer se ver e ser vista”, explica
“O momento que fui me descobrindo Amara, fui me descobrindo livre”
“À medida que a gente vai se firmando e afirmando como uma identidade legítima, vai transformando essa ideia do que é o feminino e mostrando que pode existir um feminino pautado pelo nosso corpo, o feminino trans”
Feminista, revolucionária e doutora em crítica literária, ela tem dois livros publicados, “E se eu fosse puta?” e “Vidas trans – A coragem de existir”
A escrita surgiu quando trabalhava como prostituta nas ruas de Campinas e falava sobre os programas em um blog. “A perspectiva que se tem da sociedade ali é muito reveladora”, diz
“Prostitutas são quem têm contato com o sexo que existe, um contato com o desejo que existe. Não o desejo que deveria existir, o que existe de fato”
Amara é uma mulher com pênis, e é importante que pessoas como ela contem suas histórias e ampliem nosso entendimento de gênero, identidade e sexualidade
“A gente obriga a sociedade a rever os seus conceitos, porque antes masculino significava pênis, significava o homem. Agora, masculino significa só homem”