Com um filme sobre o amor entre duas mulheres, ela se tornou a primeira cineasta negra a dirigir um longa-metragem no Brasil, em 1984
Mineira radicada no Rio de Janeiro, Adélia Sampaio nasceu em 1944 e começou a cultivar a paixão pelo cinema ainda na adolescência – ela tinha 13 anos quando assistiu a um filme na telona pela primeira vez
“Eu fiquei apavorada, o que é isso? Eu quero fazer isso! Foi o único sentimento que eu consegui expressar na hora”, contou à Tpm em 2017
“Amor Maldito”, seu primeiro e único longa-metragem, de 1984, é também o primeiro dirigido por uma mulher negra no Brasil
Baseado em fatos reais ocorridos em Jacarepaguá, bairro do Rio de Janeiro, o filme trata com um tom policialesco do amor entre duas mulheres e o suicídio de uma delas
“Eu estava trabalhando numa coisa em que eu acredito. Sou verticalmente contra qualquer preconceito, qualquer homofobia”, explica a diretora
A Embrafilme, estatal brasileira produtora e distribuidora até 1990, classificou o tema como absurdo e não ofereceu financiamento. O longa foi rodado em um sistema de cooperativa entre os técnicos e atores, em que todos receberam apenas uma ajuda de custo
O filme seguiu enfrentando barreiras, mesmo quando Adélia recebeu o convite para exibir Amor Maldito um festival no exterior
Antes de se tornar diretora, ela foi continuísta, maquiadora, câmera, montadora e produtora em mais de 70 produções. “Fui eleita a rainha da pesada”, conta
Adélia sempre priorizou trabalhar com profissionais negros em suas equipes e por isso passou por muitas situações de preconceito
Fotos: divulgação
Para se ter uma ideia, em 2016 somente 2% dos longas foram dirigidos por homens negros, enquanto nenhuma mulher negra assinou a direção de um filme, de acordo com a Ancine
Por conta desse contexto, Adélia passou apenas recentemente a ser lembrada e homenageada em festivais de cinema e prêmios pelo Brasil
“O cinema é elitista. Chega uma preta, filha de empregada doméstica e quer fazer filmes? Claro que foi difícil”, desabafa Adélia, que não cogitou desistir da carreira